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quarta-feira, agosto 31, 2005

Alicerçando Fotos # 13 - Félix Nadar 1820/1910



Baudelaire


terça-feira, agosto 30, 2005

Alicerçando Poesia # 111 - Ivo Barroso


FORMA E FUNDO


Um poema precisa ser
mais que o simples
desenrolar da elipse
ascendendo em fuso
afunilado.

Se sobe
(e é bom que suba),
deverá desenrolar-se
de si mesmo,
multiplicar o impulso
inicial e acelerar
o arranque da subida.

Inútil, porém,
se nessa forma de hélice
despetalada em sons
e sílabas,
não tiver lá dentro
o combustível do sangue
o pulsar de um desejo
o fundo de um grito
que ateste a sua
condição humana.


segunda-feira, agosto 29, 2005

Alicerçando Imagens # 69 - Andrea Mantegna 1431/1506



Lamentacoes sobre o corpo de Cristo morto, 68 x81cm - Milano, Pinacoteca de Brera


domingo, agosto 28, 2005

Alicerçando Palavras # 93 - Miguel Torga


Chaves, 4 de Setembro de 1980 – Bem gostava de o ouvir com outros ouvidos e acreditar nas suas apreciações generosas. Mas não. Infelizmente, em matéria literária, ninguém me pode dar segurança. Insegurança, sim. Agora tirar-me deste inferno em que me deixa cada obra literária editada, só a morte. A publicação de um livro é um jogo em que o autor se arrisca eternamente numa roleta diabólica, sem nunca chegar a saber se ganhou ou perdeu. E como precisamente desafio neste momento, mais uma vez, os azares do prelo, é já esse sentimento de réu em perpétuo julgado que me dilacera. Cada palavra propícia que eventualmente chega até mim, em vez de consolo, dá-me a impressão de ficar com a sorte agravada. À mercê do futuro e empenhado ao presente.


Miguel Torga, Diário XIII, Coimbra, Edição do Autor, 1983

sábado, agosto 27, 2005

Alicerçando Poesia # 110 - Anacreonte - Teos - VI a.C.


A Artémis

Eu te imploro, caçadora de veados,
loura filha de Zeus, senhora
dos animais selvagens,
ó Artémis!
Tu que, junto à torrente de Leteio,
olhas, propícia, pela cidade
de homens de ânimo fero:
pois não és pastora
de um povo rude.



Os gostos do poeta

Não gosto de quem, bebendo vinho junto do crater repleto,
canta dissensões e guerras cheias de lágrimas,
mas de quem, misturando das Musas e de Afrodite os dons esplendorosos
celebra a amável alegria.


sexta-feira, agosto 26, 2005

Alicerçando Fotos # 12



Arg�lia, Tin Mersouga


quinta-feira, agosto 25, 2005

Alicerçando Palavras # 92 - Platão - Atenas - sec. V-IV a.C.


Dirá talvez um de vós: "Mas, Sócrates, afinal que ocupação é a tua? De onde surgiram estas calúnias? Porque, sem dúvida, se tu não fizesses nada mais do que os outros, não se teria formado esta fama, nem se falaria assim de ti, se não fizesses algo de diferente da maioria? Diz-nos lá o que é, se não queres que arranjemos nós uma explicação." Tem razão, parece-me, quem assim falar. E eu tentarei demonstrar-lhe o que é que está na origem desta famosa calúnia. Escutai, pois. Poderá parecer a alguns de vós que estou a brincar, mas sabei, contudo, que vos direi toda a verdade. Eu não arranjei esta fama, Atenienses, por nenhum outro motivo que não fosse a minha sabedoria. E que espécie de sabedoria é essa? Aquela que é, por assim dizer, a sabedoria própria do homem. Pois é dessa que, realmente, eu tenho probabilidades de ser dotado.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Alicerçando Imagens # 68 - Tamara de Lempicka 1898/1980



Auto-retrato (Tamara no Bugatti verde), 1925, Colec�ao Particular


terça-feira, agosto 23, 2005

Alicerçando Poesia # 109 - Vicente Huidobro - 1893/1948


ARTE POÉTICA


Que el verso sea como una llave
Que abra mil puertas.
Una hoja cae; algo pasa volando;
Cuanto miren los ojos creado sea,
Y el alma del oyente quede temblando.
Inventa mundos nuevos y cuida tu palabra;
El adjetivo, cuando no da vida, mata.
Estamos en el ciclo de los nervios.
El músculo cuelga,
Como recuerdo, en los museos;
Mas no por eso tenemos menos fuerza:
El vigor verdadero
Reside en la cabeza.
Por qué cantáis la rosa, ¡oh Poetas!
Hacedla florecer en el poema ;

Sólo para nosotros
Viven todas las cosas bajo el Sol.
El Poeta es un pequeño Dios.

De El espejo de Agua, 1916



segunda-feira, agosto 22, 2005

Alicerçando Fotos # 11



Australia, Uluru - Pin�culos


domingo, agosto 21, 2005

Alicerçando Palavras # 91 - Demócrito - Abdera - sec. V a.C.


O homem é um pequeno universo.

sábado, agosto 20, 2005

Alicerçando Poesia # 108 - Íbico - Régio - VI a.C.


Primavera

Na primavera florescem os marmeleiros
e as romãzeiras, regadas
pelas águas dos rios,
lá onde fica das Virgens o jardim imaculado,
e os gomos das videiras crescem sob os rebentos
umbruosos dos pâmpanos; mas a mim o Amor
não me dá estação alguma de descanso:
como o trácio Bóreas, deflagrando
com o trovão, soprando do lado de Cípria,
com loucura devastadoras,
tenebroso e sem peias,
sacode de alto a baixo com força
o nosso coração.


sexta-feira, agosto 19, 2005

Alicerçando Imagens # 67 - Mirone



Mirone, Discobolo, Roma, Museu Universal

quinta-feira, agosto 18, 2005

Alicerçando Palavras # 90 - Hipócrates - Cós - sec. V a.C.


Aforismos


A vida é breve, a arte longa, a ocasião fugaz, a experiência duvidosa, o julgamento difícil. Deve não só o médico estar pronto a fazer o que é preciso, mas também há-de cooperar o doente, os que estão presentes e as circunstâncias externas.


quarta-feira, agosto 17, 2005

Alicerçando Poesia # 107 - Mallarmé 1842/1898


L'Azur

De l'éternel azur la sereine ironie
Accable, belle indolemment comme les fleurs,
Le poëte impuissant qui maudit son génie
À travers un désert stérile de Douleurs.

Fuyant, les yeux fermés, je le sens qui regarde
Avec l'intensité d'un remords atterrant,
Mon âme vide. Où fuir? Et quelle nuit hagarde
Jeter, lambeaux, jeter sur ce mépris navrant?

Brouillards, montez! Versez vos cendres monotones
Avec de longs haillons de brume dans les cieux
Qui noiera le marais livide des automnes
Et bâtissez un grand plafond silencieux!

Et toi, sors des étangs léthéens et ramasse
En t'en venant la vase et les pâles roseaux,
Cher Ennui, pour boucher d'une main jamais lasse
Les grands trous bleus que font méchamment les oiseaux.

Encor! que sans répit les tristes cheminées
Fument, et que de suie une errante prison
Éteigne dans l'horreur de ses noires traînées
Le soleil se mourant jaunâtre à l'horizon!

- Le Ciel est mort. - Vers toi, j'accours! donne, ô matière,
L'oubli de l'Idéal cruel et du Péché
À ce martyr qui vient partager la litière
Où le bétail heureux des hommes est couché,

Car j'y veux, puisque enfin ma cervelle, vidée
Comme le pot de fard gisant au pied d'un mur,
N'a plus l'art d'attifer la sanglotante idée,
Lugubrement bâiller vers un trépas obscur...

En vain! l'Azur triomphe, et je l'entends qui chante
Dans les cloches. Mon âme, il se fait voix pour plus
Nous faire peur avec sa victoire méchante,
Et du métal vivant sort en bleus angelus!

Il roule par la brume, ancien et traverse
Ta native agonie ainsi qu'un glaive sûr;
Où fuir dans la révolte inutile et perverse?
Je suis hanté. L'Azur! l'Azur! l'Azur! l'Azur!


terça-feira, agosto 16, 2005

Alicerçando Palavras # 89 - Maria de Lurdes Pintassilgo


O que me surpreende é o novo. O que me atrai é o futuro. O que me seduz é a promessa.

(...)

Em todos esses processos vejo também as dificuldades no caminho do que é novo. Descubro, no meu desejo de mudança, a importância do desvio em relação à norma, a separação que torna possível a distância em que se inscreve o inédito. E a rejeição que pode provocar. Mas reconheço que é aí, nesse aparente desvio, que começa a transformação da sociedade. E por que não também a juventude da Igreja?

E é talvez por essa convicção que começo a abominar o sempre igual, o monótono, o incolor. Verifico que não é o virtuosismo (exercício mil vezes repetido) que abre os caminhos do novo. Mas uma outra persistência que leva até ao fim a ideia e o acto, o projecto e a promessa, o desejo e a obra.


Maria de Lurdes Pintassilgo, Palavras Dadas, Livros Horizonte, Lisboa, 2005

domingo, agosto 14, 2005

Alicerçando Fotos # 10



USA, Great Sun Dunes Monument



fonte

sexta-feira, agosto 12, 2005

Alicerçando Imagens # 66 - Masaccio 1401/1427?



Santissima Trindade, 1425, Santa Maria Novella, Florenca


quarta-feira, agosto 10, 2005

Alicerçando Poesia # 106 - Akhenaton


Extrait de l'hymne au soleil d'Akhenaton


Tu te lèves beau dans l'horizon du ciel,
Soleil vivant, qui vis depuis l'origine.
Tu resplendis dans l'horizon de l'est,
Tu as rempli tout pays de ta beauté.
Tu es beau, grand, brillant. Tu t'élèves au-dessus de tout pays.
Tes rayons embrassent les pays, jusqu'aux confins de ta création.
Toi qui es Ra, tu les soumets tout entiers,
Les liant tous pour ton fils aimé.
Tu es loin, mais tes rayons sont sur la terre.
Tu es sur le rivage des hommes, et l'on ne connaît pas tes venues.
Quand tu reposes à l'Occident, sous l'horizon,
La terre est dans une ombre, semblable à celle de la mort !
A l'aube, tu resplendis dans l'horizon, tu illumines, toi le soleil;
Dans le jour, tu chasses le noir lorsque tu donnes tes rayons.
Les deux pays s'éveillent en fête, les hommes se lèvent sur leurs pieds,
A cause de toi, ils lavent leur corps, prennent leurs vêtements;
Leurs bras s'ouvrent pour adorer ton lever,
La terre entière fait son ouvrage !
Tu développes le germe dans les femmes
Et de la semence fais des hommes,
Entretenant le fils dans le sein de sa mère,
Et l'apaisant pour qu'il ne pleure pas;
Nourrice dans le sein,
Tu donnes à ce que tu crées le souffle qui l'anime.
Quand l'enfant sort du sein le jour de sa naissance,
Tu ouvres sa bouche et tu pourvois à ses besoins !
Combien nombreuses sont tes oeuvres, mystérieuses à nos yeux!
Seul dieu, toi qui n'as pas de semblable,
Tu as créé la terre selon ton cœur, alors que tu étais seul,
Les hommes, toutes les bêtes domestiques et sauvages,
Tout ce qui est sur la terre et marche sur ses pieds,
Tout ce qui est dans le ciel et vole de ses ailes;
Les pays étrangers, Syrie et Nubie, et la terre d'Egypte,
Tu as mis chaque homme à sa place
Et tu pourvois à leurs besoins.
A chacun sa provende et son temps de vie.
Leurs langues sont diverses en paroles,
Leurs caractères aussi et leur teint diffère;
Tu as distingué les contrées.
Tu crées le Nil débordant des Enfers et le fais surgir par amour
Pour que vivent les habitants puisque tu les as faits pour toi,
Tous les pays les plus lointains, tu les fais vivre,
Tu leur as donné un Nil qui déborde du ciel
Pour descendre sur eux, battre les coteaux de ses ondées
Et arroser leurs champs entre leurs villages.
Tu es seul à resplendir sous tes aspects de soleil vivant;
Que tu apparaisses à peine ou que tu sois au comble de l'éclat,
Que tu sois loin ou te rapproches,
Tu as crée des millions de formes de toi seul,
Villes et villages, les champs, les chemins et le fleuve !
Les êtres de la terre se forment sous ta main comme tu les as voulus.
Tu resplendis, et ils vivent; tu te couches et ils meurent.
Toi, tu as la durée de la vie par toi-même, on vit de toi.
Les yeux sont sur ta beauté jusqu'à ce que tu te couches.
Depuis que tu as fondé la terre, tu les élèves pour ton fils,
Issu de ta chair, le roi des deux Egyptes.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Alicerçando Palavras # 88 -Saul Bellow - 1915/2005


- Há uma certa classe de mulheres que naturalmente se sente atraída por homens velhos - disse-me. Como já assinalei, ele gostava dos comportamentos fora da regra. Especialmente quando o amor era o motivo. Ele atribuía um grande valor ao desejo. Quando buscávamos o amor, quando nos apaixonávamos, estávamos em busca da outra metade que tínhamos perdido, como tinha dito Aristófanes, mas também Platão num discurso atribuído a Aristófanes. No início, homens e mulheres eram redondos como o sol e a lua,eram ambos macho e fêmea e tinham dois órgãos genitais. Em alguns casos ambos os órgãos eram machos. E o mito continuava. Estes eram seres autosuficientes e orgulhosos. Desafiaram os deuses do Olimpo, que os puniram cortando-os ao meio. Foi esta a mutilação que a humanidade sofreu. De modo que, geração após geração, buscamos a outra metade, ansiando ser de novo inteiros.

Saul Bellow, Ravelstein, Editorial Teorema, 2000

domingo, agosto 07, 2005

Alicerçando Poesia # 105 - Verlaine 1844/1896


AQUARELLES

GREEN

Voici des fruits, des fleurs, des feuilles et des branches
Et puis voici mon coeur qui ne bat que pour vous.
Ne le déchirez pas avec vos deux mains blanches
Et qu'à vos yeux si beaux l'humble présent soit doux.

J'arrive tout couvert encore de rosée
Que le vent du matin vient glacer à mon front.
Souffrez que ma fatigue à vos pieds reposée
Rêve des chers instants qui la délasseront.

Sur votre jeune sein laissez rouler ma tête
Toute sonore encor de vos derniers baisers
Laissez-la s'apaiser de la bonne tempête
Et que je dorme un peu puisque vous reposez.


sábado, agosto 06, 2005

Alicerçando fotos # 9 - Estado em que se encontra o país



uma entre tantas poss�veis


sexta-feira, agosto 05, 2005

Alicerçando Imagens # 65 - Anselmo da Campione



Duomo de Modena - Ultima ceia


quinta-feira, agosto 04, 2005

Alicerçando Palavras # 87- Baudelaire 1821/1867


Petits poèmes en prose

XVI

L'horloge

Les Chinois voient l'heure dans l'oeil des chats.
Un jour un missionnaire, se promenant dans la banlieue de Nankin, s'aperçut qu'il avait oublié sa montre, et demanda à un petit garçon quelle heure il était.
Le gamin du céleste Empire hésita d'abord; puis, se ravisant, il répondit: "Je vais vous le dire." Peu d'instants après, il reparut, tenant dans ses bras un fort gros chat, et le regardant, comme on dit, dans le blanc des yeux, il affirma sans hésiter: "Il n'est pas encore tout à fait midi." Ce qui était vrai.
Pour moi, si je me penche vers la belle Féline, la si bien nommée, qui est à la fois l'honneur de son sexe, l'orgueil de mon coeur et le parfum de mon esprit, que ce soit la nuit, que ce soit le jour, dans la pleine lumière ou dans l'ombre opaque, au fond de ses yeux adorables je vois toujours l'heure distinctement, toujours la même, une heure vaste, solennelle, grande comme l'espace, sans divisions de minutes ni de secondes, -- une heure immobile qui n'est pas marquée sur les horloges, et cependant légère comme un soupir, rapide comme un coup d'oeil.
Et si quelque importun venait me déranger pendant que mon regard repose sur ce délicieux cadran, si quelque Génie malhonnête et intolérant, quelque Démon du contretemps venait me dire: "Que regardes-tu là avec tant de soin? Que cherches-tu dans les yeux de cet être? Y vois-tu l'heure? mortel prodigue et fainéant?" je répondrais sans hésiter
"Oui, je vois l'heure; il est l'Eternité!"
N'est-ce pas, madame, que voici un madrigal vraiment méritoire, et aussi emphatique que vous-même? En vérité, j'ai eu tant de plaisir à broder cette prétentieuse galanterie, que je ne vous demanderai rien en échange.


quarta-feira, agosto 03, 2005

Alicerçando Poesia # 104 - Goulart Gomes


Todo Desejo

Canto pelas Almas Cinzentas

Cantemos por todas as guerras
por todas as feras
por todos os homens

Pelos aiatolás e husseins
por todos os kadafis
por todos os politburos
por todas as casas
brancas ou rosadas.
Façamos chegar nossas vozes
nossos prantos
pelas crianças que se perderam nos caminhos
dos desertos
cantemos pelos oásis
que não chegaram
pelas mães que padeceram
sem alcançarem os paraísos,
pelos homens que se foram pela paz

Elevemos nossas vozes
para que elas afundem os navios
e façam calar os sons estridentes
dos metais incandescentes.
Cantemos um canto indecente
para esconder nossas vergonhas,
cantemos um canto-tanque
mais forte que as correntes
mais leve que os aviões

Vamos cantar, de braços abertos
em cada praça de paz celestial
vamos cantar pelo napalm
pela menina nua que ainda chora na foto:
o tempo parou no Vietnã

Por favor, cantem!
pela bandeira fincada na lua
e pela de Iwo Jima
pelos cogumelos vaporosos
pelo Armagedon
pela dureza dos nossos rócheos corações
e pela sutileza das nossas vontades

Apaguemos as pegadas das botas
os emblemas das testas
as divisas dos ombros:
não existem guerras santas

Vamos abafar as vozes metálicas
das armas
as vozes microfônicas
dos cegos de alma
e no universo, sonar, uníssonos
o nosso canto de amor
à PAZ.


segunda-feira, agosto 01, 2005

Alicerçando Fotos # 8



Vila Carlota, Lago de Como