#footer { width:660px; clear:both; margin:0 auto; } #footer hr { display:none; } #footer p { margin:0; padding-top:15px; font:78%/1.6em "Trebuchet MS",Trebuchet,Verdana,Sans-serif; text-transform:uppercase; letter-spacing:.1em; }

quarta-feira, maio 28, 2008

Alicerçando Palavras # 157- Ana Cristina Cesar


Back Again

Larguei as botas na escada. Subi descalça, vesti a camisola de algodão.Acabei com o Dalmadorm. Não rolei mais. Esqueci do corpo; com olhos abertos fica tudo claro; eu estava dentro; a vida
inteira, a terra toda, os punks negros na esquina, negra com punhal. Flash vermelho em luz neon piscando por entre as persianas: "aqui morri", e depois de um minuto todas as paixões de novo. De novo e uma paisagem só vista do alto. Não vejo meu corpo mas penso nele com desejo e minha consciência é o teto do mundo, como se o forro do meu crânio fosse o céu. Mas não vejo o osso duro. Quando a luzneon piscou pela última vez lembrei do limbo, e ali também era o inferno que doía no teto do mundo e o céu era vermelho. Me vi num trem atravessando a Escócia e lendo um conto de KM. O conto se acaba e eu fechava o livro e olhava para fora e meu pescoço estava mole, miúdos de galinha, brilho de luz no mar do Norte, um velho inspecionava tickets, encostei a cabeça na vidraça. Estava quente epassava rápido e eu dormi sem querer (quando quero tenho insônia), rumando para o norte.


Etiquetas:

domingo, maio 25, 2008

Alicerçando Poesia # 307 - Chiyojo (1703-1775)


Tornaram-se flores
ou são só gotas de orvalho?
Neve de manhã.


Etiquetas:

quinta-feira, maio 22, 2008

Alicerçando Palavras # 156 - António Quadros


As caravelas já não partem deslumbradas a desvelar o Cabo. Não. O tempo é outro. Mas os pescadores portugueses continuam na praia a fixar com olhos estáticos o mar infindável e a viver e a lutar e a sofrer e a morrer o destino do mar.
E na imaginação das crianças e dos adolescentes, no inconsciente dos adultos frustrados numa fixação à terra que lhes parece injusta e odiosa, a ideia da aventura, da viagem, do descobrimento palpita como uma promessa e como uma fascinação.


Etiquetas:

segunda-feira, maio 19, 2008

Alicerçando Poesia # 306 - Alejandro Schmidt


El salto

¿A quién olvidé
por sólo
abrir la puerta?

¿Cuál sangre di
al fuego
y al porqué?

¿De qué lado de la vida estuve?


Etiquetas:

sexta-feira, maio 16, 2008

Alicerçando Imagens # 136 - Honoré Daumier



The Uprising
c. 1860 (190 Kb); Oil on canvas, 87.6 x 113 cm (34 1/2 x 44 1/2 in); The Phillips Collection, Washington, D.C.


Etiquetas:

quarta-feira, maio 14, 2008

Alicerçando Poesia # 305 - Sophia de Mello Breyner Andresen



Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.


Etiquetas:

segunda-feira, maio 12, 2008

Alicerçando Palavras # 155 - Hisham Matar




Matar, Hisham - Em Terra de Homens - Civilização Editora



Um dos melhores livros que li ultimamente.

Etiquetas:

sábado, maio 10, 2008

Alicerçando Poesia # 304 - Katsura Nobuko


São os patos bravos -
uma fatia de silêncio
entre o seu grasnar.


Etiquetas:

quinta-feira, maio 08, 2008

Alicerçando Palavras # 154 - Ana Cristina Cesar


Back Again

Larguei as botas na escada. Subi descalça, vesti a camisola de algodão.Acabei com o Dalmadorm. Não rolei mais. Esqueci do corpo; com olhos abertos fica tudo claro; eu estava dentro; a vida
inteira, a terra toda, os punks negros na esquina, negra com punhal. Flash vermelho em luz neon piscando por entre as persianas: "aqui morri", e depois de um minuto todas as paixões de novo. De novo e uma paisagem só vista do alto. Não vejo meu corpo mas penso nele com desejo e minha consciência é o teto do mundo, como se o forro do meu crânio fosse o céu. Mas não vejo o osso duro. Quando a luzneon piscou pela última vez lembrei do limbo, e ali também era o inferno que doía no teto do mundo e o céu era vermelho. Me vi num trem atravessando a Escócia e lendo um conto de KM. O conto se acaba e eu fechava o livro e olhava para fora e meu pescoço estava mole, miúdos de galinha, brilho de luz no mar do Norte, um velho inspecionava tickets, encostei a cabeça na vidraça. Estava quente epassava rápido e eu dormi sem querer (quando quero tenho insônia), rumando para o norte.


Etiquetas:

terça-feira, maio 06, 2008

Alicerçando Poesia # 303 - Natália Correia


Queixa das almas jovens censuradas


Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crâneos ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte




Natália Correia

Etiquetas:

domingo, maio 04, 2008

Alicerçando Poesia # 303 - Ana Cristina Cesar


Nada, Esta Espuma

Por afrontamento do desejo
insisto na maldade de escrever
mas não sei se a deusa sobe à superfície
ou apenas me castiga com seus uivos.
Da amurada deste barco
quero tanto os seios da sereia.


Etiquetas:

quinta-feira, maio 01, 2008

Alicerçando Poesia # 302- Liang Peiyun - China 1907


A Zombar do Viciado de Ópio


Um pequeno deus devora e vomita fumo;

Deitado na cama se encanta.

No dia em que se esgotar toda a riqueza,

Quem terá piedade do pobre que pela rua mendiga?




Tradução de Yu Huijuan e Raul Gaião



Etiquetas: