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sexta-feira, janeiro 05, 2007

Aliceçando Palavras # 122 - Ondjaki


...Velhice é todos os dias ir despedindo um pouco coisas que inda nos tocam as paredes do coração. Durante esta minha vida acendi candeeiros pela simples poesia desse gesto, sendo, cada chama, um poema que eu escrevia para quem passava. Depois, depois do último, acariciava minha escada amiga. A dois, dividíamos um momento de frio: esses que passam a olhar meus candeeiros? Esses que vão para casa, pras as famílias deles, lareiras deles, olham as minhas chamas nocturnas? Eu é que ponho luz nas noites, meto medo na escuridão, invento pirilampos na cidade. Fosse crente, julgaria fazer jogo-de-luzes pra deus. Como sou velho, julgo ter sido poeta das luzes, escrevedor das velas, conhecedor das ceras escorridas, quer dizer, artífice de minúsculas luzes amarelas. Minha vida acontece de noite – eu fosse uma chama provisória. Quando olho o céu, lhe vejo assim pintalgado de brilhos, indago-me, e eu, quem me acendeu sempre, enquanto acendi estrelas aqui na terra?


ONDJAKI, E Se Amanhã o Medo, (contos), Caminho