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quarta-feira, setembro 15, 2004

ALICERÇANDO POESIA #7 - JORGE DE SENA




Felicidade

A felicidade sentava-se todos os dias no peitoril da janela.

Tinha feições de menino inconsoláveç.
Um menino impúbere
ainda sem amor para ninguém,
gostando apenas de demorar as mãos
ou de roçar lentamente o cabelo pelas faces humanas.

E, como menino que era,
achava um grande mistério no seu próprio nome.

PERSEGUIÇÃO, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 245




Glosa À Chegada do Inverno

Ao frio suave, obscuro e sossegado,
e com que a noite, agora, se anuncia
depois de posto, ao longe, um sol dourado
que a uma rosada fímbria arrasta e esfia...

Da solidão dos homens apartado,
e entregue a tal silêncio, que devia
mais entender as sombras a meu lado
que a terra nua onde se atrasa o dia...

Recordo o amor distante que em mim vive,
sem tempo ou espaço, e apenas amarrado
à liberdade imensa que não tive,

e que não há. Como o recordo agora
que a luz do dia já se não demora,
se apenas de si próprio é recordado?

PEDRA FILOSOFAL, LÍRICAS PORTUGUESAS, PORTUGÁLIA EDITORA, P. 250





Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pareça
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.