Alicerçando Palavras # 58 - Michel Foucault 1926/1984
Michel Foucault
Aquilo que constitui o valor específico da meditação sobre a morte, não está somente em que ela antecipa aquilo que a opinião representa em geral como o maior dos infortúnios, não está somente em que ela permite que nos convençamos de que a morte não é um mal; ela oferece a possibilidade de deitar, por antecipação por assim dizer, um olhar retrospectivo à nossa vida. Ao considerarmo-nos a nós mesmos como no ponto de morrer, podemos julgar cada uma das acções que estamos em vias de praticar no seu valor próprio. A morte, dizia Epicteto, prende o operário ao seu ofício, o embarcadiço à sua navegação: “e tu a que ocupação queres tu ser preso?” E Séneca considerava o momento da morte como aquele em que poderíamos de algum modo fazer de juiz de nós mesmos e medir o progresso moral que teríamos cumprido até ao nosso último dia. Escrevia ele, na sua carta 26: “Sobre o progresso moral que possa ter feito, confiarei na morte... Espero o dia em que me farei juiz de mim mesmo e saberei se possuo a virtude nos lábios e no coração”.
In, Eribon. Didier, Michel Foucault, Livros do Brasil, Lisboa
Nota: Em 1989 foi publicado um pequeno volume que reunia os Sumários dos Cursos redigidos por Foucault para o Anuário do Colégio de França. Este extracto é do ano de 1981-82, consagrado a “A hermenêutica do sujeito”.
<< Home