Alicerçando Palavras # 112 - Marsílio Ficino
O próprio esplendor do sumo bem refulge em cada uma das coisas e, onde refulge mais perfeitamente, é aí que sobretudo estimula que vê essa coisa, excita quem a considera, arrasta e ocupa todo aquele que dela se aproxima, obrigando-o, como se fora a uma divindade, a venerar um esplendor desse género mais do que qualquer outro e, por fim, deposta a natureza anterior, a transformar-se ele mesmo em esplendor.
Isto resulta claramente do facto de um homem que vê ou contacta com o homem amado nunca estar contente; por isso, exclama: "Este homem tem em si algo que me queima; mas não compreendo o que eu mesmo desejo!" Daqui se conclui claramente que o espírito é incendiado por aquele fulgor divino que resplende no homem belo como num espelho e que, por caminhos desconhecidos apanhado, é transportado, como por um anzol, para o alto até se divinizar.
Mas Deus seria, por assim dizer, um tirano iníquo, se nos obrigasse a alcançar coisa que nunca poderíamos obter. Por isso, deve-se dizer que nos leva precisamente a buscá-lo no acto em que inflama o desejo humano com as suas centelhas.
Marsílio Ficino, Theologia Platónica
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