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sábado, janeiro 08, 2005

Alicerçando Palavras # 31 - José Saramago sobre Susan Sontag


Vivo numa cultura que se nega a dar relevo à inteligência. Para mim, a inteligência que merece a pena defender é a que se mostra crítica, dialéctica, céptica e complexa.

Susan Sontag






Dançava com Lobos

Não voltaremos a ver a madeixa branca de Susan Sontag, não ouviremos nunca mais a sua voz forte e ao mesmo tempo aveludada, não encontraremos nos jornais os seus artigos de análise, crítica e também de protesto e indignação, assegurando-nos de que a honradez intelectual continuava, obstinadamente, a não ser uma mera conjunção de vocábulos. Agora os Estados Unidos deveriam estar de luto, se o luto cívico fosse, hoje, nesse país, compatível com a atmosfera perversa e rarefeita que o poder dá a respirar à mentalidade dos seus cidadãos. Susan Sontag "dançava com lobos", ela mesmo era uma loba, e às vezes uivava de desespero porque a dor não acaba no mundo, porque a guerra não acaba no mundo, porque o humano tarda a chegar e o inumano nos vai calcando aos pés todos os dias e em todos os lugares. Adeus, Susan, não voltaremos a ver-nos. Vou sentir a tua falta, asseguro-te. Tu já és, segundo o lugar-comum, uma "perda irreparável". Amanhã começaremos a saber até que ponto.

José Saramago - In, JL, nº 894