Alicerçando Palavras # 74 - Fernando Campos
Partiam de Cória, do rio Alagón, as tropas cristãs, peonagem à frente, lanceiros, frecheiros, besteiros... do alto das penhas o olhar silencioso os seguia das águias e das funduras dos céus perscrutavam a terra falcões peregrinos, gaviões rapaces... floresta de piques, aljavas às costas, os arcos, as bestas, caminhada penosa, barrancos, taludes, pedregais e brenhas, a tropos-galhopos....dos ramos das árvores olham-nos espertos os corvos, as pegas... entre mesnada de cavaleiros a pesada, lenta carriagem, tirada por mulas, carroças com porcos e as manadas de bois, os rebanhos de ovelhas e bodes tocados por moços monteiros e matilhas de cães vigilantes... e um bando de andorinhas - que a hora soara - voo levantava, julgando emigravam como elas também... atrás, comboiado pelo garbo da fina flor dos barões, ao vento estandartes que empunhavam alférezes, el-rei Dom Alfonso em seu corcel formoso... na alcândora dos ninhos vigiavam conspícuas cegonhas, os grous, e no chão acolhiam-se às luras coelhos e lebres... Marcham para sul, sem perderem vista da fresca ribeira, que o calor aperta. Galgam os penhascos do Tejo pela ponte de Alcântara, nem se dando conta, a um lado, em destroços, do pequeno templo antigo de ervas coberto, de sardões habitado, vazio dos imortais deuses mortos.
Fernando Campos, O Cavaleiro da Águia, Difel, 2005
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