Alicerçando Palavras # 113 - Arturo Pérez Reverte
Luis de Ayala suspirou, amistosamente dissimulado.
- O progresso, don Jaime. Mágica palavra! Os novos tempos, os novos costumes, chegam a todos. Nem mesmo o senhor está imune.
- Apresentando-lhe antecipadamente as minhas desculpas, creio que se engana, don Luis - era evidente que o mestre de armas se sentia muito incomodado com o rumo que a conversa havia tomado. - Concedo-lhe que considere toda esta história como o capricho profissional de um velho mestre, se assim o quiser. Uma questão... estética. Mas daí a afirmar que tal coisa suponha abrir a porta ao progresso e aos novos costumes, vai um abismo. Já tenho anos a mais para encarar a sério alterações notáveis no meu modo de pensar. Considero-me a salvo, tanto das loucuras da juventude como de dar importância de maior ao que é apenas, por minha fé, um passatempo técnico.
O Alumbres sorriu aprovadoramente perante a comedida exposição de don Jaime.
- Tem razão, mestre. Sou eu que lhe devo desculpas. Por outro lado, o senhor nunca defendeu o progresso...
- Nunca. Toda a minha vida me limitei a sustentar uma certa ideia de mim mesmo, e é tudo. É preciso conservar uma série de valores que não se depreciam com o passar do tempo. O resto são modas do momento, situações fugazes, mutáveis. Numa palavra, ninharias.
O marquês olhou-o fixamente. O tom leve da conversa dissipara-se completamente.
Arturo Pérez-Reverte, O Mestre de Esgrima,edições Asa, 2002
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