#footer { width:660px; clear:both; margin:0 auto; } #footer hr { display:none; } #footer p { margin:0; padding-top:15px; font:78%/1.6em "Trebuchet MS",Trebuchet,Verdana,Sans-serif; text-transform:uppercase; letter-spacing:.1em; }

sábado, setembro 22, 2007

Alicerçando Palavras # 135 - Bernard-Henry Lévy


Vê-o bem, esse livro. Sente-o. Não o escreve. Talvez nunca o venha a escrever. Mas sabe a forma que ele terá. Ouve a sua música. Vê os seus cumes, os seus vazios, as suas linhas de força, as suas lacunas. Vê os grandes buracos que ele deixará, os momentos que serão apagados. Vê cenas, escolhidas entre muitas, a que voltará constantemente porque a vida, no tempo em que a vivia, passava por aí incessantemente. Vê uma sequência de imagens, de fragmentos. Vê frases soltas, colocadas de ponta a ponta, sem ordem nem encadeamento, à maneira de chapas de Nadar, guardadas numa pequena arca. E vê-se diante da arca - ele, tão amante de ordem e de sistema - obedecendo apenas à sua memória e escrevendo, pela primeira vez, um livro sob inspiração. Como se pode ver um livro que não se escreve nem nunca se escreverá? Assim que coloca para si própria a questão, a resposta vem-lhe imediatamente - terrível: não se pode ver assim, num tempo tão restrito e quase simultâneo, o quadro inteiro da sua existência, senão quando já se está, irreversivelmente, e mesmo que não existam ainda outros signos convincentes, nesse estado de memória total que é, notoriamente, o último prelúdio da agonia.

Lévy, Bernard-Henry, Os Últimos Dias de Charles Baudelaire, Quetzal Editores.



Etiquetas: