Alicerçando Poesia # 66 - Maria Alzira Seixo
A Sombra
Só a voz, mordaz e quente.
O olhar nostálgico e satírico.
Um sorriso perene, lateral, mordaz.
E a ternura oferecida no jeito oblíquo do corpo
fino, flexível, que a mão colhe.
Suspicaz e “dérobée”.
Chega depois. Esvai-se breve.
Chama.
Uma sombra de um sonho
que em nenhum sol prescreve.
Na Casa da Estrada
Há um brilho no olhar enrugado
mas fixo e a descobrir continuidades
no gesto de entrar em casa
onde se aquieta e precede. A mão sábia
toca primeiro reconhecendo pontos volumes
acompanha depois o corpo e sublinha-o
aos poucos, detendo-se em indagações
acometendo em pressão reconhecida
às vezes subjugando zonas de execução pensada
São minutos lentos de sensações breves e contínuas
É um labor intenso e cerebral, um labirinto curvo
na atenção do olhar que sente e se encandeia.
Que julgas nas pontas dos dedos que interrogam
ou demorando-se deixam no corpo o pensamento
desse fulgor sensível?
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