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terça-feira, outubro 12, 2004

Alicerçando Palavras #10 - Sebastião da Gama


Na contra-corrente


Março, 23

- Tens muito que fazer?

- Não. Tenho muito que amar.

(Não entendo ser professor de outra maneira. E não me venham dizer que isso assim cansa e mata; morrer-se, sempre se morre: e à minha maneira tem-se a consolação de não ser em vão que se morre de cansaço.

O nosso metodólogo ralha comigo às vezes. E que tem ele feito? E que está ele a fazer?

Simples, muito simples, a lição de hoje. Mas a gosto dos rapazes, que mais que tudo adoram os trechos que tenham ares de teatro. Já em Setúbal eles mo exigiam. Pena é que no livro não haja muito mais; a não ser que a comédia chegue a contar tantas representações como as revistas do Parque Mayer, temos de limitar as aulas teatrais a quatro ou cinco.

O trecho dialogado é um bom campo para aprender a ler. O mocinho que, num trecho vulgar, não é capaz ou tem vergonha de ler com naturalidade o discurso directo, aqui sente-se actor e aspira ao aplauso da plateia. Faz voz de menina (sacrifício supremo, mas feito com prazer) se tanto for necessário.

Vou aproveitar este gosto dos moços no terceiro período. Já que eles gostam de ler teatro, mas têm mostrado pouco interesse em escrevê-lo eles próprios, vou subtilmente obrigá-los a serem finalmente autores: bastará, tenho a certeza, anunciar que as peças escritas serão representadas na aula. Para lhes abrir o apetite, poderei até levar à cena a que o Gabriel escreveu. O que não garanto é que se encontrem com facilidade as "ingénuas": enquanto se trata de coisas do livro, ainda a história vai bem; mas ali, a representar duas companheiras suas de todos os dias, a Filomena e a Lourdes, fia mais fino. Experimentemos, no entanto.

Este capítulo também pode servir de sugestão para uma festa escolar. Vou aproveitar, para a festa, a sugestão de um professor: uma turma oferecer a outra uma festazinha.

E eis como já não vou entrar na semana que vem de mãos vazias. Tanto mais que surge com isto uma excelente oportunidade (enfim!) para lhes falar nos cartazes...