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sábado, outubro 02, 2004

Alicerçando Poesia #11 - Francisco Brines



APONTAMENTO DE VIAGEM

(De automóvel)



As janelas reflectem o fogo do poente
e flutua uma luz cínzea que chegou do mar.
Quer ficar dentro de mim o dia que agoniza
como se eu, ao fitá-lo, o pudesse salvar.

E Quem há que me olhe e que possa salvar-me?
A luz tornou-se negra e apagou-se o mar.




O AZUL

Busquei o azul, perdi a juventude.
Os corpos, como ondas, rompiam-se
em areias desertas. Houve amor
no recanto florido de um jardim
fechado. E quis achar palavras
que alguém pudesse amar, e elas valeram-me.
Estou a chegar ao fim. Cega meus olhos
um desolado azul iluminado.



O DESTINO NÃO É UM LUGAR

O caminho foi longo e houve névoa.
Porém, houve o espaço. Mas agora
adensou-se a névoa até ao ponto
de ser o espaço o muro que já roço.
Nele me deterei e, ao voltar
os olhos para trás, a mesma névoa
far-me-á tentar de novo o mesmo muro,
e, seu eu dirigir o olhar ao céu
para ali me salvar, a negra névoa
irá cegar-me os olhos, e assim será
isso a que chamaste sono eterno.



Tradução de: José Bento

In, A Última Costa, Assírio & Alvim