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terça-feira, janeiro 31, 2006

Alicerçando Poesia # 166 - Gabriele D'Annunzio


Poeta, divina é a Palavra
na pura Beleza o céu repousa
toda a alegria nossa: e o Verso é tudo.


Isotteo, 1890



domingo, janeiro 29, 2006

Alicerçando Imagens # 94 - Cy Twombly


The Four Seasons: Summer, 1994, synthetic polymer paint, oil, pencil and crayon, 314,5 x 201 cm


sexta-feira, janeiro 27, 2006

Alicerçando Poesia # 165 - Leopold Sédar Senghor 1906/2001


Femme noire


Femme nue, femme noire
Vétue de ta couleur qui est vie, de ta forme qui est beauté
J'ai grandi à ton ombre; la couceur de tes mains bandait mes yeux
Et voilà qu'au coeur de l'Eté et de Midi,
Je te découvre, Terre promise, du haut d'un haut col calciné
Et ta beauté me foudroie en plein coeur, comme l'éclair d'un aigle


Femme nue, femme obscure
Fruit mûr à la chair ferme, sombres extases du vin noir, bouche qui fais lyrique ma bouche
Savane aux horizons purs, savane qui frémis aux caresses ferventes du Vent d'Est
Tamtam sclulpté, tamtam tendu qui gronde sous les doigts du vainqueur
Ta voix grave de contralto est le chant spirituel de l'Aimée


Femme noire, femme obscure
Huile que ne ride nul souffle, huile calme aux flancs de l'athlète, aux flancs des princes du Mali
Gazelle aux attaches célestes, les perles sont étoiles sur la nuit de ta peau.


Délices des jeux de l'Esprit, les reflets de l'or ronge ta peau qui se moire


A l'ombre de ta chevelure, s'éclaire mon angoisse aux soleils prochains de tes yeux.


Femme nue, femme noire
Je chante ta beauté qui passe, forme que je fixe dans l'Eternel
Avant que le destin jaloux ne te réduise en cendres pour nourrir les racines de la vie.


quinta-feira, janeiro 26, 2006

Alicerçando Palavras # 95 - Arthur Rimbaud


Há muito tempo, gabava-me de possuir todas as paisagens possíveis e considerava ridículas todas as celebridades da pintura e da poesia moderna. Gostava das pinturas idiotas, das bandeiras das portas, dos cenários, dos toldos, dos saltimbancos, dos estandartes, das estampas populares; da literatura fora de moda, do latim eclesiástico, dos livros eróticos sem ortografia, dos romances das nossas avós, dos contos de fadas, dos livrinhos para a infância, dos velhos melodramas, dos refrães estúpidos e dos ritmos ingénuos. Sonhava com cruzadas, com viagens de descobrimentos de que não há memória, com repúblicas sem história, com guerras de religião sufocadas, com revoluções de costumes, com migrações de raças e de continentes: acreditava em todos os encantamentos.

Uma Temporada no Inferno, 1873



quarta-feira, janeiro 25, 2006

Alicerçando Imagens # 93 - Juan Gris





segunda-feira, janeiro 23, 2006

Alicerçando Poesia # 164 - Manuel Alegre


Senhora das Tempestades

(Lisboa/Nice/Lisboa, Março, 1966)



Senhora das tempestades e dos mistérios originais
quando tu chegas a terra treme do lado esquerdo
trazes o terramoto a assombração as conjunções fatais
e as vozes negras da noite Senhora do meu espanto e do meu medo.

Senhora das marés vivas e das praias batidas pelo vento
há uma lua do avesso quando chegas
crepúsculos carregados de presságios e o lamento
dos que morrem nos naufrágios Senhora das vozes negras.

Senhora do vento norte com teu manto de sal e espuma
nasce uma estrela cadente de chegares
e há um poema escrito em página nenhuma
quando caminhas sobre as águas Senhora dos sete mares.

Conjugação de fogo e luz e no entanto eclipse
trazes a linha magnética da minha vida Senhora da minha morte
teu nome escreve-se na areia e é uma palavra que só Deus disse
quando tu chegas começa a música Senhora do vento norte.

Escreverei para ti o poema mais triste
Senhora dos cabelos de alga onde se escondem as divindades
quando me tocas há um país que não existe
e um anjo poisa-me nos ombros Senhora das Tempestades.

Senhora do sol do sul com que me cegas
a terra toda treme nos meus músculos
consonância dissonância Senhoras das vozes negras
coroada de todos os crepúsculos.

Senhora da vida que passa e do sentido trágico
do rio das vogais Senhora da litúrgia
sibilação das consoantes com seu absurdo mágico
de que não fica senão a breve música.

Senhora do poema e da oculta fórmula da escrita
alquimia de sons Senhora do vento norte
que trazes a palavra nunca dita
Senhora da minha vida Senhora da minha morte.

Senhora dos pés de cabra e dos parágrafos proibidos
que te disfarças de metáfora e de soprar marítimo
Senhora que me dóis em todos os sentidos
como um ritmo só ritmo como um ritmo.

Batem as sílabas da noite na oclusão das coronárias
Senhora da circulação que mata e ressuscita
trazes o mar a chuva as procelárias
batem as sílabas da noite e és tu a voz que dita.

Batem os sons os signos os sinais
trazes a festa e a despedida Senhora dos instantes
fica o sentido trágico do rio das vogais
o mágico passar das consoantes.

Senhora nua deitada sobre o branco
com tua rosa-dos-ventos e teu cruzeiro do sul
nascem faunos com tridentes no teu flanco
Senhora de branco deitada no azul.

Senhora das águas transbordantes no cais de súbito vazio
Senhora dos navegantes com teu astrolábio e tua errância
teu rosto de sereia à proa de um navio
tudo em ti é partida tudo em ti é distância.

Senhora da hora solitária do entardecer
ninguém sabe se chegas como graça ou como estigma
onde tu moras começa o acontecer
tudo em ti é surpresa Senhora do grande enigma.

Tudo em ti é perder Senhora quantas vezes
Setembro te levou para as metrópoles excessivas
batem as sílabas do tempo no rolar dos meses
tudo em ti é retorno Senhora das marés vivas.

Senhora do vento com teu cavalo cor de acaso
tua ternura e teu chicote sobre a tristeza e a agonia
galopas no meu sangue com teu cateter chamado Pégaso
e vais de vaso em vaso Senhora da arritmia.

Tudo em ti é magia e tensão extrema
Senhora dos teoremas e dos relâmpagos marinhos
batem as sílabas da noite no coração do poema
Senhora das tempestades e dos líquidos caminhos.

Tudo em ti é milagre Senhora da energia
quando tu chegas a terra treme e dançam as divindades
batem as sílabas da noite e tudo é uma alquimia
ao som do nome que só Deus sabe Senhoras das tempestades.



SENHORA DAS TEMPESTADES, PUBLICAÇÕES DOM QUIXOTE, Lisboa, 1998 P. 25



sexta-feira, janeiro 20, 2006

Alicerçando Poesia # 163 - Ana Akhmátova


Como Pedra Branca



Como pedra branca no fundo do poço
dentro de mim está uma memória.
Nem quero afastá-la, nem posso:
é sofrimento e é prazer e glória.



Julgo que quem olhar-me bem de perto
dentro em meus olhos logo pode vê-la.
E ficará mais triste e pensativo
que alguém que escute uma anedota obscena.



Eu sei que os deuses metamorfoseavam
os homens em coisas sem tirar-lhes alma.
Para que o espante da tristeza dure sempre,
em coisa da memória te mudei.


tradução de Jorge de Sena

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Alicerçando Poesia # 162 - Delfina Muschietti - Buenos Aires


Atardecer en Punta Rubia

El páramo
de los barrancos
baja marrón
hueco desierto
hacia la arena
y los ojos de la lechucita
que insiste
parada en el camino.
Llega el olor del pasto
alto seco
amarillo
al atardecer
vibra un insecto
allí cruzando el aire
con su sonido: en el borde
el solo silencio
se mete en el mar
como una cuña
con la mirada un mosaico
de luz mediterránea
azul feroz
si el cielo es un plano
inexistente
/ África / América del Sur /
en la ojos sitiados
por el sol que cae
abanicándose
la apenas fría brisa
que sacude levanta
el polvo del amino
hiende
el verde quebradizo
del pajonal.



Interiores

(Sólo consigo
se cierra para sí
para ella)

Extendida
sobre el cuerpo del sueño
de los labios hacia adentro:
una superficie desierta
viene del mar
y se abre como estela
en el cielo,
se disuelve
en el gusto de los párpados dormidos.

Se teme
no haber hablado nada
con nadie
jamás
en el interior de la boca
el silencio se hunde
como un animal submarino
lengua
parte las aguas
una aleta que brilla
ciega
en el coral del aire.


segunda-feira, janeiro 16, 2006

Alicerçando Imagens # 92 - Paul Gauguin 1848/1903



Jacob lutando contra o Anjo, 1888, óleo sobre tela, 73 x 92cm, National Galleries of Scotland, Edinburgh


domingo, janeiro 15, 2006

Alicerçando Palavras # 94 - Enrique Vila-Matas


O passado, dizia Proust, não só não é fugaz, como não sai do sítio. Com Paris passa-se o mesmo, nunca partiu em viagem. E ainda por cima é interminável, nunca se acaba.


Vila- Matas, Enrique – Paris Nunca Se Acaba, Teoremas



sexta-feira, janeiro 13, 2006

Alicerçando Poesia # 161 - Hélio Pellegrino 1924/1988


Aula de Música



O violino principiante
arranha a pele do dia.
Ó dura, lenta porfia
da mão, soletrando o arco.
Ó marinheiro hesitante
— difícil carpintaria —
na construção do teu barco.




Plenitude


A pedra, o vento, a luz alteada,
o salso mar eterno, o grito
do mergulhão, sob o infinitoazul:


— Deus não me deve nada.


quarta-feira, janeiro 11, 2006

Alicerçando Imagens # 91 - Henry Moore



Multidão a Olhar para um Objecto Amarrado, giz e grafite, 1942, 442 x571 mm


terça-feira, janeiro 10, 2006

Alicerçando Palavras # 93 - Plínio, O Velho, sec. I


Cânone

Policleto de Sícion, aluno de Agélade fez o Diadúmeno, figura efeminada de jovenzinho, célebre por ter sido avaliado em cem talentos; e ainda o Doríforo, uma figura viril de rapaz. Também fez aquela a que os artistas chamam o Cânone e aonde os artistas vão buscar as regras da arte como quem se atém a uma lei. E é considerado o único homem que encarnou numa obra de arte a própria arte.



História Natural, XXXIV, 55



segunda-feira, janeiro 09, 2006

Alicerçando Poesia # 160 - Poemas de Amor do Antigo Egipto


Se fores à casa coberta de hera
Antes dos outros convidados chegarem,
Põe-te à vontade
Na sala dos banquetes.

As flores mexem-se com a brisa,
A qual, se não estiver toda envolta em perfume,
Há-de conseguir levar até ti
Pelo menos a excelência de alguma da sua fragância.

O perfume alastra,
A embriaguês começa.

Aquela rapariga ali, a que se parece com Noubt:
Se tiveres a sorte de a receber como presente,
Meu amigo, deves estar preparado para oferecer em sacrifício a tua vida
Pois é a única coisa que podes dar em troca.



tradução de Helder Moura Pereira



sábado, janeiro 07, 2006

Alicerçando Imagens # 90 - Almada Negreiros


Fernando Pessoa

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Alicerçando Poesia # 159 - Ana Akhmátova 1889/1966


Como Pedra Branca

Como pedra branca no fundo do poço
dentro de mim está uma memória.
Nem quero afastá-la, nem posso:
é sofrimento e é prazer e glória.

Julgo que quem olhar-me bem de perto
dentro em meus olhos logo pode vê-la.
E ficará mais triste e pensativo
que alguém que escute uma anedota obscena.

Eu sei que os deuses metamorfoseavam
os homens em coisas sem tirar-lhes alma.
Para que o espante da tristeza dure sempre,
em coisa da memória te mudei.


tradução de Jorge de Sena



quinta-feira, janeiro 05, 2006

Alicerçando Poesia # - António Gancho


Sobre Uma Manhã Qualquer

Manhã de ouro lhe poderíamos chamar se de ouro fora a primeira manhã
Adão inconfessado, e nada saberemos da primeira manhã
se afinal de ouro se afinal de prata.
Ainda possível ter sido de estanho?
A primeira manhã assim imaginada estanho e a cena desenrolar-se-á
com maçãs de estanho, aves de estanho, rios de estanho...
Adão não seria de estanho?
Adão inconfessado, e nada se saberá da manhã original.
A primeira manhã, a primeira luz, a primeira vida, a primeira lua
Tu, querida, o desejarias saber, o sei,
era teu desejo saber de que metal fora a primeira manhã!
Evidentemente que (e aqui sente-se já um cansaço a obcecar a caneta)
evidentemente que dizia
etc., etc.
e a respeito da primeira manhã afinal
que não interessa sabê-lo.
Olha, morre como o cigano, o pior é ires à escola.
Ah, os poetas são decididamente afectados.
Que raio de ideia esta de saber da primeira manhã?
Londrina a de hoje, e basta para tomar um excelente duche quente
com a água a pôr fervura na pele
e mais nada.
Da primeira manhã. Adão que se faça poeta e no-lo diga que metal.



O Ar da Manhã



quarta-feira, janeiro 04, 2006

Alicerçando Palavras # 92 - São Bernardo - sec. XII


Os monstros das Igrejas


De resto, que faz nos nossos claustros, onde os irmãos estão a ler o Ofício, aquela ridícula monstruosidade, aquela espécie de estranha formosidade disforme e deformidade formosa? O que estão lá a fazer os imundos símios? E os ferozes leões? E os monstruosos centauros? Ou os semi-homens? Ou os machados tigres? Ou os soldados em combate? Ou os caçadores com as trombetas? Podem-se ver muitos corpos debaixo de uma mesma cabeça e, vice-versa, muitas cabeças sobre um único corpo. De um lado, vislumbra-se um quadrúpede com cauda de serpente, do outro, um peixe com cabeça de quadrúpede. Ali, uma besta tem o aspecto de cavalo e arrasta atrás meia cabra; aqui, um animal cornudo tem o traseiro de cavalo. Em suma, aparece por todo o lado uma tão grande e tão estranha variedade de formas heterogéneas que se experimenta mais gosto em ler os mármores do que os códices e em ocupar a jornada inteira admirando uma por uma as imagens do que meditando a lei de Deus. Ó Senhor, se não nos envergonhamos destas bambochatas, porque ao menos não nos lamentamos das despesas?


Apologiam ad Guillelmum