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sexta-feira, outubro 31, 2008

Alicerçando Palavras # 166 - Bernardo Soares


Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir — é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.
Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção -isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos.
Esta madrugada é a primeira do mundo. Nunca esta cor rosa amarelecendo para branco quente pousou assim na face com que a casaria de oeste encara cheia de olhos vidrados o silêncio que vem na luz crescente. Nunca houve esta hora, nem esta luz, nem este meu ser. Amanhã o que for será outra coisa, e o que eu vir será visto por olhos recompostos, cheios de uma nova visão.


Livro do Desassossego



terça-feira, outubro 28, 2008

Alicerçando Palavras # 165 - Jean-Michel Rey


É provável que, numa vida de leitor, não façamos mais do que, com desvios e digressões contínuas, andar à volta de alguns fragmentos, pedaços de textos, que estariam inscritos em nós - no nosso teatro - de tal modo que estariam sempre para nós de novo disponíveis, legíveis - revisitáveis.

Les enfants du silence


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sábado, outubro 25, 2008

Alicerçando Palavras # 164 - Agustina Bessa-Luíz


A arte é, provavelmente, uma experiência inútil; como a «paixão inútil» em que cristaliza o homem. Mas inútil apenas como tragédia de que a humanidade beneficie; porque a arte é a menos trágica das ocupações, porque isso não envolve uma moral objectiva. Mas se todos os artistas da terra parassem durante umas horas, deixassem de produzir uma ideia, um quadro, uma nota de música, fazia-se um deserto extraordinário. Acreditem que os teares paravam, também, e as fábricas; as gares ficavam estranhamente vazias, as mulheres emudeciam. A arte é, no entanto, uma coisa explosiva. Houve, e há decerto em qualquer lugar da terra, pessoas que se dedicam à experiência inútil que é a arte, pessoas como Virgílio, por exemplo, e que sabem que o seu silêncio pode ser mortal. Se os poetas se calassem subitamente e só ficasse no ar o ruído dos motores, porque até o vento se calava no fundo dos vales, penso que até as guerras se iam extinguindo, sem derrota e sem vitória, com a mansidão das coisas estéreis. O laço da ficção, que gera a expectativa, é mais forte do que todas as realidades acumuláveis. Se ele se quebra, o equilíbrio entre os seres sofre grave prejuízo.


Dicionário Imperfeito



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quinta-feira, outubro 23, 2008

Alicerçando Poesia # 337 - Juan Luis Panero


Jocs per ajornar la mort


Descobrir em outro
a palavra precisa,
a desolada matéria do sonho,
imóvel, fixa sobre o papel.
Palavra que nomeia fantasmas
mas também labaredas de vida
e – ao fundo – o eco do mar,
a sua perdurável presença momentânea,
ondas e horas, sílabas e símbolos.
Tudo o que nos resta, tudo e nada:
jogos para adiar a morte.


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segunda-feira, outubro 20, 2008

Alicerçando Poesia # 336 - Ingeborg Bachmann


Quando alguém parte, tem de deitar
ao mar o chapéu com as conchas
apanhadas ao longo do Verão,
e ir-se com o cabelo ao vento,
tem de lançar ao mar
a mesa que pôs para o seu amor,
tem de deitar ao mar
o resto do vinho que ficou no copo,
tem de dar o seu pão aos peixes
e misturar no mar uma gota de sangue,
tem de espetar bem a faca nas ondas
e afundar o sapato
coração, âncora e cruz
e ir-se com o cabelo ao vento!
Depois, regressará.
Quando?
Não perguntes.


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sábado, outubro 18, 2008

Alicerçando Palavras # 163 - José Eduardo Agualusa


«E você, é feliz?»
«Eu estou finalmente em paz. Não receio nada. Não anseio por nada. Acho que a isto se pode chamar felicidade. Sabe o que dizia Huxley? A felicidade nunca é grandiosa.»
«O que vai ser de si?»
«Não faço ideia. Provavelmente serei avô».



José Eduardo Agualusa, in O Vendedor de Passados



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quinta-feira, outubro 16, 2008



O Eremitério distinguiu este blogue com o "Prémio Dardos", no qual

"se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.

Quem recebe o “Prêmio Dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:


1. - Exibir a distinta imagem;

2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;

3. - Escolher quinze (15) outros blogs a que entregar o Prémio Dardos.


Dando cumprimento às regras, aqui estão os escolhidos:


blog com palavras ao fundo

Citizen Mary

Click Portugal

eugeniainthemeadow

Local e Blogal

Mendes Ferreira

Nas horas e horas e meias

Novelos de Silêncio

Pé de Meia

poeta salutor

Salamandrine

Tela Abstracta

A Ver o Mar

Vidro Duplo

Voando por Aí

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quarta-feira, outubro 15, 2008

Alicerçando Imagens # 150 - Titouan Lamazou



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segunda-feira, outubro 13, 2008

Alicerçando Palavras # 162 - Deleuze


Há casos em que a velhice dá, não uma eterna juventude, mas, pelo contrário, uma soberana liberdade, uma necessidade pura em que se usufrui de um momento de graça entre a vida e a morte, em que todas as peças da máquina se combinam para lançar no futuro um traço que atravessa as idades: Ticiano, Turner, Monet.

Qu'est-ce que la philosophie?



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sábado, outubro 11, 2008

Alicerçando Poesia # 335 - W. B. Yeats


The Falling of the Leaves


Autumn is over the long leaves that love us,
And over the mice in the barley shaves;
Yellow the leaves of the rowan above us,
And yellow the wet wild-strawberry leaves.

The hour of the waning of love has beset us,
And weary and worn are our sad souls now;
Let us part, ere the season of passion forget us,
With a kiss and a tear on thy drooping brow.



Collected Poems, W. B. Yeats



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quinta-feira, outubro 09, 2008

Alicerçando Poesia # 334 - António Ramos Rosa


Quando o poema está completo desde o início
é porque o fogo já modelou a sua asa de mercúrio
e já está voando no âmbito sem rumo
para onde ele está no princípio e no fim

Essa asa é tão ágil que percorre o seu círculo
num só instante de fulgurante unidade
em que o que vai à frente já se encontra atrás
e o que era dois é já o um redondo

Não se pode prever esta viagem no indivisível
e no entanto o seu percurso é o idêntico o imutável
mas se o poema é a mutação constante das suas perspectivas
é porque o imutável é a mobilidade pura
que no seu movimento atinge a imobilidade completa

De igual modo o poema é a mutação do imóvel
e assim ele está em qualquer ponto do seu círculo
abrangendo o todo com a sua asa única
que equilibra com a outra asa ausente.


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terça-feira, outubro 07, 2008

Alicerçando Poesia # 333 - Mario de Sá-Carneiro


Estátua Falsa

Só de ouro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minha'alma desceu veladamente.

Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distância.

Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!

Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar...


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domingo, outubro 05, 2008

Alicerçando Imagens # 149 - João Hogan (1914 - 1980)



Casario


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sexta-feira, outubro 03, 2008

Alicerçando Poesia # 332 - Ernesto Cardenal - Nicaragua


Acuarela

Los ranchos dorados cercados de cardos;
chanchos en las calles;
una rueda de carreta
junto a un rancho, un excusado en el patio,
una muchacha llenando su tinaja,
y el Momotombo
azul, detrás de los alegres calzones colgados
amarillos, blancos, rosados.


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quarta-feira, outubro 01, 2008

Alicerçando Palavras # 161 - Maria Gabriela Lhansol


________ abri a porta da casa de escrever, e entrei nela; estava vazia; abri a porta da casa de escrever que estava dentro da casa de escrever – estava vazia; passeei-me à entrada da casa de escrever que havia nessa segunda casa, e senti que o meu objectivo era ficar – ficar muito para além da terra cujas ondas de beleza ressoam ainda na praia aos meus ouvidos.
A casa grande, enorme, que conteria os perdidos – os objectos, cenas da minha vida –, os encontrados e as transformações, sendo uma casa real, seria estática – um Museu. Sendo um pensamento, encontraremos um lugar para viver. A única condição é o pensamento poder «audaciar-se», exprimir-se em obra que fique em toda a parte _______



(Caderno 43, 1995)- retirado do blogue Espaço Llansol

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