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sábado, julho 30, 2005

Alicerçando Palavras # 86 - Baudelaire 1821/1867


Petits poèmes en prose

XXXIII

Enivrez-vous

Il faut être toujours ivre. Tout est là: c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.
Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.
Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est; et le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront: "Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves martyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise."


sexta-feira, julho 29, 2005

Alicerçando Poesia # 103 - Empédocles - Agrigento - V a.C.


Unidade e Pluralidade

Duas coisas te direi. Uma vez, um só cresceu para ser único,
vindo de muitos, outra dividiu-se, de um que era, para dar muitos.
Dupla é a formação dos mortais, e dupla a sua destruição.
Uma gera-a a junção de todos, e a deita a perder,
a outra cresce e desaparece, quando as coisas se separam.
E estas coisas nunca cessam de mudar continuamente,
ora convergindo num todo graças ao Amor,
ora desconjuntando-se de novo pelo ódio da Discórdia.
Assim, tal como um só sabe formar-se de vários,
e de novo tornar-se plural, quando um se separa,
assim eles se formam e a sua vida não é firme.
Mas, na medida que nunca cessam por completo de se separar,
são elas sempre inabaláveis, ao percorrer o seu círculo.


quinta-feira, julho 28, 2005

Alicerçando Fotos # 7



Blue window


Retirada daqui.

quarta-feira, julho 27, 2005

Alicerçando Imagens # 64 - Raimund Girke 1930/2002



Modifikation II, 1998


terça-feira, julho 26, 2005

Alicerçando Palavras # 85 - Baudelaire 1821/1867


Petits poèmes en prose

I

L'étranger


-- Qui aimes-tu le mieux, homme énigmatique, dis? ton père, ta mère, ta soeur ou ton frère?
-- Je n'ai ni père, ni mère, ni soeur, ni frère.
-- Tes amis?
-- Vous vous servez là d'une parole dont le sens m'est resté jusqu'à ce jour inconnu.
-- Ta patrie?
-- J'ignore sous quelle latitude elle est située.
-- La beauté?
-- Je l'aimerais volontiers, déesse et immortelle.
-- L'or?
-- Je le hais comme vous haïssez Dieu.
-- Eh! qu'aimes-tu donc, extraordinaire étranger?
-- J'aime les nuages... les nuages qui passent... là-bas... là-bas... les merveilleux nuages!


segunda-feira, julho 25, 2005

Alicerçando Poesia # 102 - Vasco Graça Moura


Lamento Para a Língua Portuguesa


não és mais do que as outras, mas és nossa,
e crescemos em ti. nem se imagina
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, mera aspirina,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vida nova e repentina.
mas é o teu país que te destroça,
o teu próprio país quer-te esquecer
e a sua condição te contamina
e no seu dia a dia te assassina.
mostras por ti o que lhe vais fazer:
vai-se por cá mingando e desistindo,
e desde ti nos deitas a perder
e fazes com que fuja o teu poder
enquanto o mundo vai de nós fugindo:
ruiu a casa que és do nosso ser
e este anda por isso desavindo
connosco, no sentir e no entender,
mas sem que a desavença nos importe
nós já falamos nem sequer fingindo
que só ruínas vamos repetindo.
talvez seja o processo ou o desnorte
que mostra como é realidade
a relação da língua com a morte,
o nó que faz com ela e que entrecorte
a corrente da vida na cidade.
mais valia que fossem de outra sorte
em cada um a força da vontade
e tão filosofais melancolias
nessa escusada busca da verdade
e que a ti nos prendesse melhor grade.
bem que ao longo do tempo ensurdecias,
nublando-se entre nós os teus cristais,
e entre gentes remotas descobrias
o que não eram notas tropicais
mas coisas tuas que não tinhas mais,
perdidas no enredar das nossas vias
por desvairados, lúgubres sinais,
mísera sorte, estranha condição,
em que, por nos perdermos, te perdias.
neste turvo presente tu te esvais,
por ser combate de armas desiguais
matam-te a casa, a escola, a profissão,
a técnica, a ciência, a propaganda,
o discurso político, a paixão
de estranhas novidades, a ciranda
da violência alvar que não abranda
entre rádios, jornais, televisão.
e toda a gente o diz, mesmo essa que anda
por tempos de ignomínia mais feliz
e o repete por luxo e não comanda,
com o bafo de hienas dos covis,
mais que uma vela vã nos ventos panda
cheia do podre cheiro a que tresanda.
foste memória, música e matriz
de um áspero combate: apreender
e dominar o mundo e as mais subtis
equações em que é igual a xis
qualquer das dimensões do conhecer,
dizer de amor e morte, e a quem quis
e soube utilizar-te, do viver,
do mais simples viver quotidiano,
de ilusões e silêncios, desengano,
sombras e luz, risadas e prazer
e dor e sofrimento, e de ano a ano,
passarem aves, ceifas, estações,
o trabalho, o sossego, o tempo insano
do sobressalto a vir a todo o pano,
e bonanças também e tais razões
que no mundo costumam suceder
e deslumbram na só variedade
de seu modo, lugar e qualidade,
e coisas certas, inexactidões,
venturas, infortúnios, cativeiros,
e paisagens e luas e monções,
e os caminhos da terra a percorrer,
e arados, atrelagens e veleiros,
pedacinhos de conchas, verde jade,
doces luminescências e luzeiros,
que podias dizer e desdizer
no teu corpo de tempo e liberdade.
agora que és refugo e cicatriz
esperança nenhuma hás-de manter:
o teu próprio domínio foi proscrito,
laje de lousa gasta em que algum giz
se esborratou informe em borrões vis.
de assim acontecer, ficou-te o mito
de seres de vastos, vários e distantes
mundos que serves mal nos degradantes
modos de nós contigo. nem o grito
da vida e do poema são bastantes,
por ser devido a um outro e duro atrito
que tu partiste até as próprias jantes
nos estradões da história: estava escrito
que iam desconjuntar-te os teus falantes
na terra em que nasceste. eu acredito
que te fizeram avaria grossa.
não rodarás nas rotas como dantes,
quer murmures, escrevas, fales, cantes,
mas apesar de tudo ainda és nossa,
e crescemos em ti. nem imaginas
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, vãs aspirinas,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vidas novas repentinas.
enredada em vilezas, ódios, troça,
no teu próprio país te contaminas
e é dele essa miséria que te roça.
mas com o que te resta me iluminas.


Uma Carta no Inverno (04/04/1997)



domingo, julho 24, 2005

Alicerçando Imagens # 63 - Jean Tinguely 1925/1991



aco pintado e materiais diversos, 1967, Centro George Pompidou, Paris


sábado, julho 23, 2005

Alicerçando Palavras # 84 - Zenão - Eleia - VI-V a. C.


Grandeza do Ser

Se o Ser não tivesse grandeza, não existiria. Se existe, força é que cada parte tenha uma certa grandeza e espessura, e estejam a uma certa distância uma das outras. A mesma afirmação se pode fazer da parte que está em frente: também ela terá grandeza e na sua frente ficará alguma coisa. Tanto vale dizer isto uma vez, como estar sempre a dizê-lo. Porquanto nenhuma parte do Ser será a extrema, nem uma coisa deixará de existir em relação a outra. E assim, se houver grande número de coisas, é forçoso que elas sejam pequenas e grandes a um tempo; pequenas, a ponto de não terem grandeza; grandes, a ponto de serem infinitas.


sexta-feira, julho 22, 2005

Alicerçando Poesia # - Alceu - Lesbos - VII-VI a.C.


A armaria

A enorme casa resplandece de bronze. O tecto está todo adornado
com elmos brilhantes, ondeiam os brancos penachos de crinas de cavalo,
adorno das cabeças dos guerreiros. As cnémides resplandecentes,
defesa contra o dardo potente, ocultam os cabides donde pendem.
As couraças de linho novo e os escudos côncavos amontoam-se no chão.
Ao lado jazem espadas da Calcídica, cinturões inúmeros e túnicas.
Disto tudo não nos esqueçamos, desde que empreendemos esta tarefa.


quinta-feira, julho 21, 2005

Alicerçando Imagens # 62 - Nicole Poussin 1594/1665


A Eucaristia, �leo sobre tela, 1647, Edimburgo


quarta-feira, julho 20, 2005

Alicerçando Poesia # 101 - Edmundo de Bettencourt 1899/1973


Consagração



Tinham desaparecido
as casas da cidade.
E havia agora uma praça,
donde a população olhava o céu, à espera.



O avião chegou.
Vinha sobre uma nuvem branca,
que irradiava aromas,
a claridade e a música, pelos ares...



O aviador de fora e à frente,
conduzia-o
e andava no ar como no chão!



De repente o avião desceu
vertiginosamente!



Caía...



E embora não se ouvisse explosão,
em baixo
um fumo negro, imenso, com destroços,
e o fogo, começaram subindo
à altura em que o avião pairava antes.



A multidão,
rápida,
como as águas duma enchente,
escoou-se...



Depois nais nada;
isto é:
somento uma infinita escuridão por sobre
a qual a palavra perdão jamais será escrita!





Luar



Apenas o luar chegou,
desfez-se em asas no ar.
E toda a noite levou
a regressar devagar...



Em noites alvas, de lua,
não há nudez com vergonha.
À luz do luar, o barro
é o mármore com que sonha.



À luz do luar, as aves
nocturnas,breve, enlanguescem
e, ao seu crepúsculo da sombra,
mortas de sonho adormecem...



Os silêncios do luar são
aléns de notas agudas,
são gritos paralisados
em rictos de bocas mudas!



O luar rouba ao escuro
o que de dia é segredo.
À luz do luar podemos
ver respirar o arvoredo...



Canção ouvida ao luar
não terá ritmos perdidos
- é som vivendo no olhar
- luz que fica nos ouvidos.



À luz do luar a água
soluça todas as dores,
que à luz do luar a água
tem na cor todas as cores.


segunda-feira, julho 18, 2005

Alicerçando Palavras # 83 - Edmundo de Bettencourt


"Avez-vous lu Rimbaud? Laforgue? Lautréamont? Apollinaire? Breton? Et les Italiens, les avez-vous lu? La poésie, surtout celle qui s'affirme révolutionnaire, s'inscrit forcément dans une tradition. Je suis um poète moins "original" que vous ne le supposez. Herberto m'apprécie beaucoup, son amitié l'égare." Il articulait parfaitement, le timbre de sa voix était argentin. Les motifs qui l'avaient conduit à opter, des décennies durant, pour le silence, m'intriguaient. "Ne confondez pas l'acte d'écrire et l'acte de publier. Je n'étais pas prêt, je doutais. Vous avez l'intention d'écrire des poèmes, n'est-ce pas, vous en écrivez déjà? Tant que vous ne serez pas sûr de vos textes, gardez-les par-devers vous, cela vous évitera des remords. Seuls les imbéciles sont pressés de contempler leur patronyme à la devanture des librairies. La poésie n'est pas un coquelicot qui se fane".

retirado da parte dedicada a Edmundo de Bettencourt do livro de Joaquim Vital, ADIEU à quelques personnages, Editions de La Différence, Paris, 2004



sábado, julho 16, 2005

Alicerçando Poesia # 100 - Fernando Pessoa & Ca.



Retrato de Fernando Pessoa por Almada Negreiros




Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos

XVI

Quem me dera que a minha vida fôsse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.

Eu não tinha que ter esperanças - tinha só que ter rodas...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.



*** * ***



Álvaro de Campos

Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade dêsse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossêgo de mim mesmo.
É um universo barato.



*** * ***



Ricardo Reis

(17-7-1914)

Não consentem os deuses mais que a vida.
Tudo pois refusemos, que nos alce
A irrespiráveis píncaros,
Perenes sem ter flôres.
Só de aceitar tenhamos a ciência,
E, enquanto bate o sangue em nossas fontes,
Nem se engelha connosco
O mesmo amor, duremos,
Como vidros, às luzes transparentes
E deixando escorrer a chuva triste,
Só mornos ao sol quente,
E refletindo um pouco.




*** * ***



Cancioneiro

13-9-1933

Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúcida e rica,
E eu sou um mar de sargaço -

Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos
Não o sei e sei-o bem.



*** * ***



Dispersas


Além-Deus
(1913?)

I
ABISMO

Olho o Tejo, e de tal arte
Que me esquece estar olhando,
E súbito isto me bate
De encontro ao devaneando -
O que é ser-rio, e correr?
O que é está-lo eu a ver?

Sinto de repente pouco,
Vácuo, o momento, o lugar.
Tudo de repente é ôco -
Mesmo o meu estar a pensar.
Tudo - eu e o mundo em redor -
Fica mais que exterior.

Perde tudo o ser, ficar,
E do pensar se me some.
Fico sem poder ligar
Ser, idéia, alma de nome
A mim, à terra e aos céus...

E súbito encontro Deus.

II
PASSOU

Passou, fora de Quando,
De Porquê, e de Passando...,

Turbilhão de Ignorado,
Sem ser turbilhonado...,

Vasto por fora do Vasto
Sem ser, que a si se assombra...

O universo é o seu rasto...
Deus é a sua sombra...


III
A VOZ DE DEUS

Brilha uma voz na noute...
De dentro de Fora ouvi-a..
Ó Universo, eu sou-te...
Oh, o horror da alegria
Dêste pavor, do archote
Se apagar, que me guia!

Cinzas de idéia e de nome
Em mim, e a voz: Ó mundo,
Sermente em ti eu sou-me...
Mero eco de mim, me inundo
De ondas de negro lume
Em que pra Deus me afundo.


IV
A QUEDA

Da minha idéia do mundo
Caí...
Vácuo além de profundo,
Sem ter Eu nem Ali...

Vácuo sem si-próprio, caos
De ser pensado como ser...
Escada absoluta sem degraus...
Visão que se não pode ver...

Além-Deus! Além-Deus! Negra calma...
Clarão de Desconhecido...
Tudo tem outro sentido, ó alma,
Mesmo o ter-um-sentido...


V
BRAÇO SEM CORPO BRANDINDO UM GLÁDIO

Entre a árvore e o vê-la
Onde está o sonho?
Que arco da ponte mais vela
Deus?... E eu fico tristonho
Por não saber se a curva da ponte
É a curva do horizonte...

Entre o que vive e a vida
Pra que lado corre o rio?
Árvore de fôlhas vestida -
Entre isso e Árvore há fio?
Pombas voando - o pombal
Está-ljes sempre à direita, ou é real?

Deus é um grande Intervalo,
Mas entre que e quê?
Entre o que digo e o que calo
Existo? Quem é que me vê?
Erro-me... E o pombal elevado
Está em tôrno na pomba, ou de lado?


*** * ***



Inéditas


SÁ CARNEIRO

1934

Nesse número do Orpheu que há de ser feito com rosas e estrêlas em um mundo novo.

Nunca supus que isto que chamam morte
Tivesse qualquer espécie de sentido...
Cada um de nós, aqui aparecido,
Onde manda a lei certa e a falsa sorte,

Tem só uma demora de passagem
Entre um comboio e outro, entroncamento
Chamado o mundo, ou a vida, ou o momento;
Mas, seja como fôr, segue a viagem.

Passei, embora num comboio expresso
Seguisses, e adiante do em que vou;
No términus de tudo, ao fim lá estou
Nessa ida que afinal é um regresso.

Porque na enorme gare onde Deus manda
Grandes acolhimentos se darão
Por cada prolixo coração
Que com seu próprio ser vive em demanda.

Hoje, falho de ti, sou dois a sós.
Há almas pares, as que conheceram
Onde os sêres são almas.

Como éramos só um, falando! Nós
Éramos como um diálogo numa alma.
Não sei se dormes [...] calma,
Sei que, falho de ti, estou um a sós.

É como se esperasse eternamente
A tua vida certa e conhecida
Aí embaixo, no Café Arcada -
Quase no extremo dêste [...]

Aí onde escreveste aquêles versos
Do trapézio, doriu-nos [...]
Aquilo tudo que dizes do Orpheu.

Ah, meu maior amigo, nunca mais
Na paisagem sepulta desta vida
Encontrarei uma alma tão querida
Às coisas que em meu ser são as reais.

[...]

Não mais, não mais, e desde que saíste
Desta prisão fechada que é o mundo,
Meu coração é inerte e infecundo
E o que sou é um sonho que está triste.

Porque há em nós, por mais que consigamos
Ser nós mesmos a sós sem nostalgia,
Um desejo de têrmos companhia -
O amigo como êsse que a falar amamos.




*** * ***




Quadras ao gosto popular

Tenho uma pena que escreve
Aquilo que eu sempre sinta.
Se é mentira, escreve leve.
Se é verdade, não tem tinta.




Santo Antônio de Lisboa
Era um grande pregador
Mas é por ser Santo Antônio
Que as moças lhe têm amor.


Tenho um relógio parado
Por onde sempre me guio.
O relógio é emprestado
E tem as horas a fio.


sexta-feira, julho 15, 2005

Alicerçando Imagens # 61 - Vladimir Velickovic


Grinevald, oleo sobre tela, 27x35cm, 1997


quinta-feira, julho 14, 2005

Alicerçando Palavras # 82 - Rimbaud 1854/1891


Une Saison en Enfer

(...)
On ne part pas. - Reprenons les chemins d'ici, chargé de mon vice, le vice qui a poussé ses racines de souffrance à mon côté, dès l'âge de raison - qui monte au ciel, me bat, me renverse, me traîne.
La dernière innocence et la dernière timidité. C'est dit. Ne pas porter au monde mes dégoûts et mes trahisons.
Allons! La marche, le fardeau, le désert, l'ennui et la colère.
A qui me louer? Quelle bête faut-il adorer? Quelle sainte image attaque-t-on? Quels coeurs briserai-je? Quel mensonge dois-je tenir? - Dans quel sang marcher?
Plutôt, se garder de la justice. - La vie dure, l'abrutissement simple, - soulever, le poing desséché, le couvercle du cercueil, s'asseoir, s'étouffer. Ainsi point de vieillesse, ni de dangers: la terreur n'est pas française.
- Ah! je suis tellement délaissé que j'offre à n'importe quelle divine image des élans vers la perfection.
Ô mon abnégation, ô ma charité merveilleuse! ici-bas, pourtant!
De profundis Domine, suis-je bête!
(...)


quarta-feira, julho 13, 2005

Alicerçando Poesia # 99 - Rimbaud 1854/1891


Ma Bohème

Je m'en allais, les poings dans mes poches crevées ;
Mon paletot aussi devenait idéal ;
J'allais sous le ciel, Muse ! et j'étais ton féal ;
Oh ! là là ! que d'amours splendides j'ai rêvées !

Mon unique culotte avait un large trou.
- Petit-Poucet rêveur, j'égrenais dans ma course
Des rimes. Mon auberge était à la Grande-Ourse.
- Mes étoiles au ciel avaient un doux frou-frou

Et je les écoutais, assis au bord des routes,
Ces bons soirs de septembre où je sentais des gouttes
De rosée à mon front, comme un vin de vigueur ;

Où, rimant au milieu des ombres fantastiques,
Comme des lyres, je tirais les élastiques
De mes souliers blessés, un pied près de mon coeur !


terça-feira, julho 12, 2005

Alicerçando Imagens # 60 - Milos Sobaïc (Sérvia)


oleo sobre tela, 130x149, 1971




escultura, 330x180x50, 1974


segunda-feira, julho 11, 2005

Alicerçando Palavras # 81 - Maurice Fleuret



La vibration, ça ne se voit pas, ça ne se ressent pas autrement que par l'ouïe. Tout corps solide est un corps vibrant, cette table par exemple, si vous mettez devant elle un micro de contact, vous entendrez sa voix... L'expérience de la musique, c'est un moyen d'entrer en résonance sympathique avec la matière, avec le mystère, avec les lois physiques qui régissent l'univers. Et dans la mesure où la musique est le plus immatériel de tous les arts, elle est véritablement le chemin de la transcendance. Il y a cette possibilité merveilleuse d'être dans une communication aussi intime, fraternelle, fiévreuse parfois, avec quelqu'un qui est mort depuis des siècles, Monteverdi, Bach, Beethoven...


Le Nouvel Observateur, 13 février 1982Propos de Maurice Fleuret, recueillis par Catherine David



domingo, julho 10, 2005

Alicerçando Poesia # 98 - Alain Bosquet (1919-1998)


Passage d'un poète


Le poète est passé : un remous dans l'argile
se dresse en monument,
avec soudain le bras qui se profile,
la lèvre et l'oeil aimants ;

Le poète est passé : le ruisseau qui hésite,
devient fleuve royal ;
il n'a plus de repos ni de limites ;
il ressemble au cheval.

Le poète est passé : au milieu du silence
s'organise un concert,
comme un lilas ; une pensée se pense,
le monde s'est ouvert.

Le poète est passé : un océan consume
ses bateaux endormis.
La plage est d'or et tous les ors s'allument
pour s'offrir aux amis.

Le poète est passé : il n'est plus de délire
qui ne soit oeuvre d'art.
Le vieux corbeau devient un oiseau-lyre.
Il n'est jamais trop tard

pour vivre quinze fois : si le poète hirsute
repasse avant l'été,
consultez-le car de chaque minute
il fait l'éternité.


Un jour après la vie, Editions Gallimard, 1984



sábado, julho 09, 2005

Alicerçando Imagens # 59 - Andrea Mantegna 1431-1506



O Encontro (detalhe) - Camara dos Esposos, Palacio Ducal, Mantua, It�lia


sexta-feira, julho 08, 2005

Alicerçando Poesia # 97 - Pedro Mexia




Nas estantes os livros ficam
(até se dispersarem ou desfazerem)
enquanto tudo
passa. O pó acumula-se
e depois de limpo
torna a acumular-se
no cimo das lombadas.
Quando a cidade está suja
(obras, carros, poeiras)
o pó é mais negro e por vezes
espesso. Os livros ficam,
valem mais que tudo,
mas apesar do amor
(amor das coisas mudas
que sussurram)
e do cuidado doméstico
fica sempre, em baixo,
do lado oposto à lombada,
uma pequena marca negra
do pó nas páginas.
A marca faz parte dos livros.
Estão marcados. Nós também.



In Duplo Império, Edição de Autor, 1999



quinta-feira, julho 07, 2005

Alicerçando Imagens # 58 - Leonor Fini 1908/1996


A Governanta, óleo sobre tela, 61x46cm, 1992


segunda-feira, julho 04, 2005

Alicerçando Palavras # 80- Sebastian Faulks


(...)- Cerca de cinco anos. Não mais do que isso. Todos os meus bons quadros foram pintados nesse pequeno período. Depois disso houve algo que se alterou, mudou. Embora processo pareça ter sido espontâneo, acho que também houve uma componente de vontade. Passei muitas horas em frente ao cavalete - tinha esse tipo de auto-disciplina - mas, à parte isso não tive consciência de nenhum esforço intelectual, embora suspeite que este foi maior do que eu me apercebi na altura. Quando se pinta com esse grau de concentração, a nossa mente está parcialmente passiva, estamos num estado em que nos submetemos aos impulsos que sentimos, mas também existe algo de activo. Temos de nos certificar de que os impulsos ficam, ao menos, na constelação certa. Puxa-se e empurra-se; até mesmo parar é um acto consciente. O facto de não termos consciência desta parte activa não a torna menos exigente. Muitos pintores ficam esgotados devido ao esforço - o caso de Derain, na minha opinião. Talvez tenha sido afinal o que aconteceu comigo. Senti-o como a perda dos sonhos espontâneos, mas se calhar estava só exausto.

Sebastian Faulks, Charlotte Gray, Difel, 2004



domingo, julho 03, 2005

Alicerçando Poesia # 96 - Mário Quintana 1906/1994


Os Degraus


Não desças os degraus dos sonhos
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás de suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco esse nosso mundo...


sábado, julho 02, 2005

Alicerçando Imagens # - Ghirlandaio 1449-1494



Retrato de uma jovem - Museu Calouste Gulbenkian


sexta-feira, julho 01, 2005

Alicerçando Palavras # 79 - Jorge Luís Borges


[...]Entoei, lento, a famosa linha:

L'hydre-univers tordant son corps écaillé d'astres.

Senti-lhe um espanto quase amedrontado. Repetiu-a em voz baixa, saboreando cada palavra resplandecente.

- É verdade - balbuciou. - Nunca poderei escrever uma linha como essa.

Hugo tinha-nos unido.

Recordo agora que ele repetira com fervor aquele breve poema em que Walt Whitman relembra uma noite compartilhada ao pé do mar, noite em que fora realmente feliz.

- Se Whitman a cantou é porque a desejava e não aconteceu - observei. - O poema ganha se adivinharmos que é manifestação de um anseio e não a história de um eco.

Ficou a olhar para mim.

- O senhor não o conhece - exclamou. - Whitman é incapaz de mentir.

Não passa em vão, meio século. Por detrás desta conversa entre pessoas de leituras variadas e gostos diferentes, compreendi que não podíamos entender-nos. Éramos demasiado diferentes e demasiado parecidos. Não podiamos enganar-nos, o que faz difícil o diálogo. Cada um de nós era o arremedo caricato do outro. De tão anormal, a situação não podia durar muito mais tempo. Aconselhar ou discutir era inútil porque o inevitável destino dele era ser o que eu sou.[...]


extracto do conto O Outro

Jorge Luís Borges, O Livro de Areia, Editorial Estampa, Lisboa, 1994