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quinta-feira, janeiro 31, 2008

Alicerçando Palavras # 147- Eugène Ionesco





DO TEMPO


Muitas vezes a mim mesmo perguntei e muitas vezes escrevi: "Onde é que está o que se passou, onde é que está o que se passou, em que cave, em que arrecadação extravagante, ultramundana, em que arrecadação do nada ou do tudo se encontra o passado?" Será que o passado passa, Deus-sabe-de-que-maneira, para o presente? O presente será sempre, será esse futuro sempre no presente? De certa maneira: oh incerta e paradoxal forma."O que foi... o que foi... o que foi... Desesperadamente, corro atrás do que foi, atrás do que foi. Será o que já foi "nunca mais"? Talvez, no presente, o passado active este presente, se transforme em presente. Ele existiria da mesma forma que existem aqueles livros enormes nas bibliotecas. Como as páginas que lá estão, fotografadas em clichés minúsculos, para não ocuparem tanto espaço e para poderem ser lidos nos aparelhos, nas lupas, nos microscópios que aumentam, aumentam muito.


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segunda-feira, janeiro 28, 2008

Alicerçando Poesia # 288 - Czeslaw Milosz


QUANDO HÁ LUA

Quando há lua e as mulheres passeiam de vestidos floridos,
Espantam-me os seus olhos, as suas pestanas e toda a ordem do mundo.
Parece-me que de tão grande e mútua atracção
Podia, enfim, resultar a verdade definitiva.


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sexta-feira, janeiro 25, 2008

Alicerçando Poesia # 287 - Pedro Tamen


Aqueço-me com isto. Ao seu calor
O nosso sangue é um e amadurece
Boa-noite meu amor.
Boa-noite, que amanhece.


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quarta-feira, janeiro 23, 2008

Alicerçando Palavras # 146 - Inês Pedrosa


Se é verdade que ninguém consegue regressar ao lugar onde foi feliz, não é menos verdade que a dor se escoa dos lugares onde sangrou. Na memória que sabia da alegria intensa ou da dor profunda intrometeu-se o acentuado arrefecimento do tempo e o persistente calor dos sonhos. Recordar uma viagem é ficcioná-la; os diários não registam o tempo interior das horas e dos minutos.

Inês Pedrosa, No Coração do Brasil - Seis Cartas de Viagem ao Padre António Vieira, excerto da 1ª carta da Bahia, Dom Quixote e CNC


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segunda-feira, janeiro 21, 2008

Alicerçando Poesia # 287 - Sophia de Mello Breyner Andresen


Lisboa

Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver


in NAVEGAÇÕES, 1977-82



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sábado, janeiro 19, 2008

Alicerçando Poesia # 286 - e.e. cummings


Seeker Of Truth


seeker of truth

follow no path
all paths lead where

truth is here


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quinta-feira, janeiro 17, 2008

Alicerçando Poesia # 285 - Adélia Prado


O amor no éter

Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.


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terça-feira, janeiro 15, 2008

Alicerçando Imagens # 131 - Marlene Dumas


Snow Flake, 1996, aguarela, 125 x 70


Supermodel, 1995


Magdalena 3, 1996, Tinta sobre papel.

Julie-die Vrou, 1985, óleo sobre tela, 125 x 105


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domingo, janeiro 13, 2008

Alicerçando Palavras # 145 - Sophia de Mello Breyner Andresen


Nas vertentes cavadas em socalco crescia a vinha. Era ali a terra pobre donde nasce o bom vinho. Quanto mais pobre é a terra, mais rico é o vinho. O vinho onde, como um poema, ficam guardados os sabores das flores e da terra, o gelo do Inverno, a doçura da Primavera e o fogo dos Estios. E dizia-se que o vinho daquelas encostas, como um bom poema, nunca envelhecia. À direita entre a várzea e os montes, crescia a mata, a mata carregava murmúrios e perfumes e que os Outonos tornavam doirada.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Contos Exemplares, O Jantar do Bispo



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quinta-feira, janeiro 10, 2008

Alicerçando Imagens # 130 - Aristide Maillol


O rio, 1943, MOMA, NY



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terça-feira, janeiro 08, 2008

Alicerçando Poesia # 284 - Han Yu

O mais perfeito dos sons humanos é a palavra.
A poesia é a forma mais perfeita da palavra.


Han Yu (768-824)

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domingo, janeiro 06, 2008

Alicerçando Poesia # 283 - Luiz Pacheco 1925/2008


Coro de escárnio e lamentação dos cornudos em volta de S.Pedro

Coplas dedicadas às fogosas e vampirescas mulheres da Beira,
de quem já Abel Botelho disse o que disse.



Monologo do primeiro cornudo:

Acordei um triste dia
Com uns cornos bem bonitos
E perguntei à Maria
Porque me pôs os palitos
Jurou por alma da mãe
(Com mil tretas de mulher)
Que era mentira
Tambem,ainda me custava a crer
Fiquei de olho espevitado
Que calado é o mehor
E para não re-ser enganado
Redobrei gozos de amor

Tais canseiras dei ao físico
Tal ardor pus nos abraços
Que caí morto de tísico
Com o sexo em pedaços
Já esperava por isto a magana?
Já previra o que se deu?
Do Além via-a na cama
Com um tipo pior que eu
Vi-o dar ao rabo a valer
Fornicando a preceito
Sabia daquele mistério
Que puxa muito do peito

Foi a hora de me eu rir
Que a vingança tem seus quês
O mais certo é para aqui vir
Ainda antes que passe um mês
Arranjei um bom lugar
Na pensão de Mestre Pedro
Onde todos vão parar
Embora com muito medo
Não passava de uma semana
O meu dito estava escrito
Vítima daquela magana
Pobre tísico,tadito


Dueto dos dois cornudos:

Agora já somos dois
A espreitar de cá de cima
Calados como dois bois
Vendo o que passa na vida
Meteu na cama mais gente
Um,dois,três logo a seguir
Não há piça que a contente
É tudo o que tiver de vir


São Pedro,indignado,pragueja:

É demais,arre diabo-berra S.Pedro,sandeu-
E mortos por dar ao rabo,lá vêm eles p'ró ceu...


Coro,pianíssimo,lirismo nas vozes:

Quem morre como um anjinho...
Quem morre por muito amar...


Coro,agora narrativo ou explicativo:

Já formamos um ranchinho,de cá de cima a espreitar


Aparte do autor das coplas:-coitadinhos

Passam meses,passa tempo e a bela não se consola
Já somos um regimento como esses que vão para a Angola
Fazemos apostas lindas sempre que vem cara nova
Cálculos,medidas infindas,como ela terá a cova!
Há quem diga que por si já não lhe tocou o fundo
Outros juram que era assim do tamanho deste mundo
Parecia uma piscina!-diz um do lado,espantado-
Nunca vi uma menina num estado tão desgraçado


(Aparte do autor,antigo militante das esquerdas baixas)

Num estado tão desgraçado,parece-me ouvir o povo
Chorando seu triste fado nas garras do Estado Novo
O ultimo que cegou cá morreu que nem um patego
Afogado e era mar nos abismos daquele pêgo


O coro dos cornudos acompanhado por S.Pedro em surdina,entoa
a moralidade,após ter limpado as últimas lagrimetas e suspirado
como só os cornudos sabem:ahh!

Mulher não queiras sabida
Nem com vício desusado
Que podes perder a vida
Na estafa de dar ao rabo
Escolhe donzela discreta
Com os três no seu lugar
Examina-lhe bem a greta
Não te vá ela enganar
E depois de lhe veres o bicho
E as mamadeiras que tem
A funcionar a capricho
Já sabes se te convem

Mulher calma,é estima-la
Como a santa no altar
Cabra doida,é rifa-la
Que não venhas cá parar
Este conselho te dão
E não te levam dinheiro
Os cornudos que aqui estão
Com São Pedro hospitaleiro
Invejosos,quase todos
Dos cornos que o mundo guarda
Fazem mais um bocado de lamentação

(Nota do autor-quase,porque,entretanto alguns brincavam uns com
os outros.Rabolices...

Mas se fornicas a rodos tua vida aqui não tarda

Recomeça a moralidade,estilo 'estão verdes,não prestam'
Alguns bêbedos,cornudos despeitados ou amargurados,vozes
pastosas
(deve ler-se vinho...velhinho)

Melhor que a mulher é o vinho
Que faz esquecer a mulher
Que faz do amor já velhinho
Ressurgir de novo o prazer


Finale muito catolico

Assim termina o lamento
Pois recordar é sofrer
A mãe fode
É bom sustento
E por nós reza o pater


Luiz Pacheco,num dia em que se achou mais pachorrento.


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sexta-feira, janeiro 04, 2008

Alicerçando Poesia # 282 - Paulo Leminski


parem
eu confesso
sou poeta

cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face

parem
eu confesso
sou poeta

só meu amor é meu deus

eu sou o seu profeta


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quarta-feira, janeiro 02, 2008

Alicerçando Palavras e Imagem # 13 - De Chirico



Heitor e Andrómaca, 1917, óleo sobre tela, 90 x 60 cm, Milão colecção particular


No que me diz respeito, sou calmo e ornamento-me a mim mesmo com três palavras que desejo serem o cunho da minha obra: Pictor classicum sum.

De Chirico



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