#footer { width:660px; clear:both; margin:0 auto; } #footer hr { display:none; } #footer p { margin:0; padding-top:15px; font:78%/1.6em "Trebuchet MS",Trebuchet,Verdana,Sans-serif; text-transform:uppercase; letter-spacing:.1em; }

quarta-feira, julho 29, 2009

Alicerçando Poesia # 375 - José Luís Peixoto


Amor



o teu rosto à minha espera. o teu rosto

a sorrir para os meus olhos. existe um

trovão de céu sobre a montanha.



as tuas mãos são finas e claras. vês-me

sorrir. brisas incendeiam o mundo.

respiro a luz sobre as folhas da olaia.



entro nos corredores de outubro para

encontrar um abraço nos teus olhos.

este dia será sempre hoje na memória.



hoje compreendo os rios. a idade das

rochas diz-me palavras profundas.

hoje tenho o teu rosto dentro de mim.




In, A Casa, a Escuridão, Temas e Debates

Etiquetas:

sábado, julho 25, 2009

Alicerçando Poesia # 374 - Herberto Helder

Bicicleta



Lá vai a bicicleta do poeta em direcção

ao símbolo, por um dia de verão

exemplar. De pulmões às costas e bico

no ar, o poeta pernalta dá à pata

nos pedais. Uma grande memória, os sinais

dos dias sobrenaturais e a história

secreta da bicicleta. O símbolo é simples.

Os êmbolos do coração ao ritmo dos pedais -

lá vai o poeta em direcção aos seus

sinais. Dá à pata

como os outros animais.



O sol é branco, as flores legítimas, o amor

confuso. A vida é para sempre tenebrosa.

Entre as rimas e o suor, aparece e des

aparece uma rosa. No dia de verão,

violenta, a fantasia esquece. Entre

o nascimento e a morte, o movimento da rosa floresce

sabiamente. E a bicicleta ultrapassa

o milagre. O poeta aperta o volante e derrapa

no instante da graça.



De pulmões às costas, a vida é para sempre

tenebrosa. A pata do poeta

mal ousa agora pedalar. No meio do ar

distrai-se a flor perdida. A vida é curta.

Puta de vida subdesenvolvida.

O bico do poeta corre os pontos cardeais.

O sol é branco, o campo plano, a morte

certa. Não há sombra de sinais.

E o poeta dá à pata como os outros animais.



Se a noite cai agora sobre a rosa passada,

e o dia de verão se recolhe

ao seu nada, e a única direcção é a própria noite

achada? De pulmões às costas, a vida

é tenebrosa. Morte é transfiguração,

pela imagem de uma rosa. E o poeta pernalta

de rosa interior dá à pata nos pedais

da confusão do amor.

Pela noite secreta dos caminhos iguais,

o poeta dá à pata como os outros animais.



Se o sul é para trás e o norte é para o lado,

é para sempre a morte.

Agarrado ao volante e pulmões às costas

como um pneu furado,

o poeta pedala o coração transfigurado.

Na memória mais antiga a direcção da morte

é a mesma do amor. E o poeta,

afinal mais mortal do que os outros animais

dá à pata nos pedais para um verão interior.





Cinco canções lacunares, in Ofício Cantante, poesia completa, Assírio & Alvim

quarta-feira, julho 22, 2009

Alicerçando Poesia # 373 - José Luís Peixoto

Vertigem





somos tão novos e estamos tão perdidos. o teu silêncio

dentro dos gritos das árvores, o meu silêncio sobre o

entardecer. seria feliz se pudesse dizer-te: vem,

vamos fugir de mãos dadas, amor.



In, A Casa, a Escuridão, Temas e Debates

Etiquetas:

sexta-feira, julho 17, 2009

Alicerçando Poesia # 372 - Luís Veiga Leitão

Alquímia da Criação


Quanta geometria negra
por entre sílabas ardendo à míngua?
- para que a fúria da palavra encontre
pela porta do fogo
o ouro da língua.

In o Rosto por dentro, Afrontamento

Etiquetas:

quinta-feira, julho 09, 2009

Alicerçando Poesia # 371 - Herberto Helder

Ninguém se aproxima de ninguém se não for num murmúrio,

entre flores altas: camélias de ar

espancado, as labaredas dos aloés erguidas

de uma carne difícil.

A beleza que devora a visão alimenta-se da desordem.

O espaço brilha dela, sussura quando passa por uma imagem

tão leve que não suporta o peso

brusco

do sangue - as veias da garganta contra a boca.



Última Ciência, in Ofício Cantante, poesia completa, Assírio & Alvim

Etiquetas:

segunda-feira, julho 06, 2009

Alicerçando Poesia # 370 - Bernardo Pinto de Almeida

Onde tu pousas as mãos,
naturalmente
eu vou pousar as minhas. Um silêncio
faz-se pela casa, uma luz coada vem da janela
e cobre os móveis de uma poalha
doirada. Os objectos estão quietos
como nunca.

Onde tu pousas as mãos,
onde tu pousas mesmo se brevemente as mãos,
torna-se íntima a percepção que se tem de cada hora,
de cada amanhecer,
de cada exacto momento. O entardecer
é só um vasto campo que se abre,
um rumor de folhas que restolham no jardim.

Escrever é ler,
ler é escrever - eu sei isso
porque em cada sítio onde [do meu corpo] tu pousaste as tuas mãos
ficou escrito - eu vejo-o: nítido -
sobre o mais frágil espelho dos sentidos, uma palavra que se lê
de trás para diante. Quando te deitas eu sinto-lhe o perfume,
que é o da noite que entra pela janela.

E onde tu pousas as tuas mãos faz-se um rio
de prata e de quietude mesmo nas minhas mãos
que pousam onde as tuas foram antes procurar
a quietude, procurar as tuas mãos. São exactas as tuas mãos,
são necessárias, têm dedos
que são os filamentos de gestos que descrevem na penumbra
desenhos tão perfeitos que surpreendem.

Onde tu
pousares as tuas mãos
eu quero estar.
Exactamente como a sombra
cai na sombra. A água
na água. O pão
nas mãos.

in Hotel Spleen
"roubado" aqui com a devida autorização

Etiquetas:

quinta-feira, julho 02, 2009

Alicerçando Fotografias # 29 - Ericeira

Quando o por-do-sol se torna luz interior e ilumina os caminhos do mar.

Fotografias de hfm.











Etiquetas: