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sexta-feira, setembro 28, 2007

Alicerçando Poesia # 268 - Camilo Pessanha


Crepuscular

Há no ambiente um murmúrio de queixume,
De desejos de amor, dais comprimidos...
Uma ternura esparsa de balidos,
Sente-se esmorecer como um perfume.

As madressilvas murcham nos silvados
E o aroma que exalam pelo espaço,
Tem delíquios de gozo e de cansaço,
Nervosos, femininos, delicados.

Sentem-se espasmos, agonias dave,
Inapreensíveis, mínimas, serenas...
Tenho entre as mãos as tuas mãos pequenas,
O meu olhar no teu olhar suave.

As tuas mãos tão brancas danemia...
Os teus olhos tão meigos de tristeza...
É este enlanguescer da natureza,
Este vago sofrer do fim do dia.


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quarta-feira, setembro 26, 2007

Alicerçando Palavras # 136 - Clarice Lispector


E era bom. "Não entender" era tão vasto que ultrapassava qualquer entender - entender era sempre limitado. Mas não-entender não tinha fronteiras e levava ao infinito, ao Deus. Não era um não-entender como um simples de espírito. O bom era ter uma inteligência e não entender. Era uma benção estranha como a de ter loucura sem ser doida. Era um desinteresse manso em relação às coisas ditas do intelecto, uma doçura de estupidez.

Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável: queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter compreendido errado. Compreender era sempre um erro - preferia a largueza tão ampla e livre e sem erros que era não-entender. Era ruim, mas pelo menos se sabia que se estava em plena condição humana.

No entanto às vezes adivinhava. Eram manchas cósmicas que substituíam entender.


Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou o Livro dos prazeres, Relógio d'Água.



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segunda-feira, setembro 24, 2007

Alicerçando Imagens # 121 - Gustave Doré








Gustave Doré, ilustração do Corvo de Edgar Allan Poe


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sábado, setembro 22, 2007

Alicerçando Palavras # 135 - Bernard-Henry Lévy


Vê-o bem, esse livro. Sente-o. Não o escreve. Talvez nunca o venha a escrever. Mas sabe a forma que ele terá. Ouve a sua música. Vê os seus cumes, os seus vazios, as suas linhas de força, as suas lacunas. Vê os grandes buracos que ele deixará, os momentos que serão apagados. Vê cenas, escolhidas entre muitas, a que voltará constantemente porque a vida, no tempo em que a vivia, passava por aí incessantemente. Vê uma sequência de imagens, de fragmentos. Vê frases soltas, colocadas de ponta a ponta, sem ordem nem encadeamento, à maneira de chapas de Nadar, guardadas numa pequena arca. E vê-se diante da arca - ele, tão amante de ordem e de sistema - obedecendo apenas à sua memória e escrevendo, pela primeira vez, um livro sob inspiração. Como se pode ver um livro que não se escreve nem nunca se escreverá? Assim que coloca para si própria a questão, a resposta vem-lhe imediatamente - terrível: não se pode ver assim, num tempo tão restrito e quase simultâneo, o quadro inteiro da sua existência, senão quando já se está, irreversivelmente, e mesmo que não existam ainda outros signos convincentes, nesse estado de memória total que é, notoriamente, o último prelúdio da agonia.

Lévy, Bernard-Henry, Os Últimos Dias de Charles Baudelaire, Quetzal Editores.



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quinta-feira, setembro 20, 2007

Alicerçando Poesia # 267 - Dante Alighieri


Retrato da Amada


Tanto é gentil e tão honesto é o ar
da minha dama, quando aos mais saúda,
que toda a língua de tremor é muda,
e os olhos não se atrevem de a fitar.


E ela perpassa, ouvindo-se louvar,
vestida de humildade e tão sisuda,
que se diria que, do céu transmuda,
à terra veio milagres comprovar.


E é graciosa tanto a quem na mira
que dá dos olhos tal ternura ao seio,
que entendê-la não pode o que a não sente.


E é como se em seus lábios fora ardente
um espírito suave e de amor cheio
que, sem dizê-lo, às almas diz: - Suspira.




Tradução de Jorge de Sena



segunda-feira, setembro 17, 2007

Alicerçando Poesia # 266 - Amalia Bautista


Ao fim são muito poucas as palavras
que nos doem a sério e muito poucas
as que conseguem alegrar a alma.
São também muito poucas as pessoas
que tocam nosso coração e menos
ainda as que o tocam muito tempo.
E ao fim são pouquíssimas as coisas
que em nossa vida a sério nos importam:
poder amar alguém, sermos amados
e não morrer depois dos nossos filhos.


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domingo, setembro 16, 2007

Alicerçando Poesia # 265 - Natália Correia


Nessa manhã as garças não voaram
E dos confins da luz um deus chamou.
Docemente teus cílios se fecharam
Sobre o olhar onde tudo começou.


A terra uivou. Todas as cores mudaram
O mar emudeceu. O ar parou.
Escuros véus de pranto o sol taparam
De azáleas lívidas a ilha se cercou.


A que pélago o esquife te levava?
Não ao termo. A não chorar os mortos.
Teu sumo espiritual florido ensina.


E se o mundo em ti principiava,
No teu mistério entre astros absortos,
Suavemente, ó mãe, tudo termina.



Em Mãe Ilha,Sonetos Românticos, Edições "O Jornal", 1990, 1ª edição, p. 27



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sexta-feira, setembro 14, 2007

Alicerçando Poesia # 264 - Al Berto


Vigílias

Quando aqui não estás
o que nos rodeou põe-se a morrer

a janela que abre para o mar
continua fechada só nos sonhos
me ergo
abro-a
deixo a frescura e a força da manhã
escorrem pelos dedos prisioneiros
da tristeza
acordo
para a cegante claridade das ondas

um rosto desenvolve-se nítido
além
rasando o sal da imensa ausência
uma voz

quero morrer
com uma overdose de beleza

e num sussurro o corpo apaziguado
perscruta esse coração
esse
solitário caçador


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quarta-feira, setembro 12, 2007

Alicerçando Palavras # 134 - Albert Camus


Je regardais la campagne autour de moi. A travers les lignes de cyprès qui menait aux collines près du ciel, cette terre rousse et verte, ces maisons rares et bien dessinées, je comprenais maman. Le soir, dans ce pays, devait être comme une rêve mélancolique. Aujourd'hui, le soleil débordant qui faisait tressaillir le paysage le rendait inhumain et déprimant.

Camus, Albert, L'Etranger



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segunda-feira, setembro 10, 2007

Alicerçando Poesia # 263 - António Gedeão


Poema das árvores

As árvores crescem sós. E a sós florescem.

Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
e entretanto dar flores.


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sábado, setembro 08, 2007

Alicerçando Imagens # 120 - Frank Stella



The Quadrant, 1987-1988, painting/mixed media on etched magnesium,
234.32 cm x 210.19 cm x 125.73 cm, Collection SFMOMA


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quinta-feira, setembro 06, 2007

Alicerçando Palavras # 133 - André Gide


J'ai vu le ciel frémir de l'attente de l'aube. Une à une les étoiles se fanaient. Les près étaient inondés de rosée; l'air n'avait que des caresses glaciales. Il sembla quelque temps que l'indistincte vie voulût s'attarder au sommeil, et ma tête encore lassée s'emplissait de torpeur. Je montai jusqu'à la lisière du bois; je m'assis; chaque bête reprit son travail et sa joie dans la certitude que le jour va venir, et le nystère de la vie recommença de s'ébruiter par chque échancrure des feuilles. - Puis le jour vint.

J'ai vu d'autres aurores encore. - J'ai vu l'attente de la nuit.


Gide, André, Les Nourritures terrestres



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terça-feira, setembro 04, 2007

Alicerçando Imagens # 119 - Julian Schnabel


Portrait of Jacqueline, 1989, óleo e cerâmica


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domingo, setembro 02, 2007

Alicerçando Poesia # 262 - Raúl Hernández Novás - Cuba - 1948/1993)


ANTE UN POETA

Veo a un niño jugar en la sonriente
calzada de la luz, la provisoria.
Veo a un joven andando en la memoria
la temblorosa piedra, lentamente.

Veo a un hombre maduro que camina
Llevando un niño de la firme mano.
Junto a un joven filial veo un anciano
Leve como la lumbre que declina.

Tiemblo al verlo pasar por los urbanos
dédalos con su paso ya rendido
y de pensar que esas sencillas manos

que tantas cosas bellas han reunido
acaben de ser polvo en otras manos…
---Las de la muerte, no las del olvido.


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