#footer { width:660px; clear:both; margin:0 auto; } #footer hr { display:none; } #footer p { margin:0; padding-top:15px; font:78%/1.6em "Trebuchet MS",Trebuchet,Verdana,Sans-serif; text-transform:uppercase; letter-spacing:.1em; }

segunda-feira, março 31, 2008

Alicerçando Poesia # 296 - José Gomes Ferreira


Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...

A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.

Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.

E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
-onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.


Etiquetas:

sexta-feira, março 28, 2008

Alicerçando Palavras # 150 - Maria Gabriela Llansol


Todos estes pensamentos, estas notas, são minhas personagens, meus interlocutores. Me interpelam, na mesma medida que o viver quotidiano e, em conjunto, formam um todo recorrente. Queria permanecer o maior número possível de dias neste tempo, que deriva para uma batalha e que contradizia uma dimensão única de vida. A estas paredes ligada, sempre em deslocação, chamo a escrita, mesmo quando não é lembrada por sinais. Com este material preparava A Restante Vida, não só a do livro deste nome, mas a do decurso permanente em que me tinha deixado cair.

Jodoigne, 27 de Dezembro de 1975 - FINITA, Maria Gabriela Llansol



Etiquetas:

quarta-feira, março 26, 2008

Alicerçando Poesia # 295 - Joaquim Cardoso Dias


Carta dos Trabalhos do Olhar

do outro lado das palavras os ramos altos das figueiras
a misturar o tempo com restos de casas abandonadas

levanto as mãos no meu sonho
e uma ferida de água nas pontas dos dedos
durará aqui como um beijo imaginado

lembrando correndo dormindo

falo da outra face dos rios
de coisas velozes como a terra onde dói um sorriso
onde a noite se dobra nítida ao fervor das sementes
onde o corpo adivinha essa cor rasgada nos lençóis

depois olho-te em segredo
respiro o que tu respiras
escrevo essas palavras adormecidas no ar

olho-te longe da minha insónia
contemplo o horizonte quebrado dos montes
o trigo o feno as estevas rio-me

a sombra dos meus braços move-se
junto aos gatos entre avencas e silenas
fico imóvel atento

onde começará este esquecimento?
como será o meu silêncio no teu rosto?

deita-te sobre mim vem escuta
as árvores abrem-se ao meio nas ruas da vila
nas pedras cansadas nas amoras junto ao sol dos muros

vem não tenhas medo
sou teu e também isto são pormenores
vem era uma vez dois magos numa floresta


Joaquim Cardoso Dias, Em Cinco Dias - Malcata 7 Geografias, Edições Alma Azul



Etiquetas:

segunda-feira, março 24, 2008

Alicerçando Palavras # 149 - Ruben A.


Nunca mais dizer: vou a Itália, outrossim dizer: vou a Florença, vou a Capri, vou a Roma. Quando voltar a viajar fá-lo-ei de forma fixa e direi então: vou passar uns meses a Roma, vou passar quinze dias a Capri, vou passar três semanas a Florença. – Esta grande viagem deu umas primeiras impressões porque quando voltar será de uma forma directa ao objectivo, sem paragens intermédias. E a técnica de um bom êxito viajático está em nunca ver muitas coisas ao mesmo tempo. – É preciso dar tempo a que a arte tenha liberdade dentro de nós.

Ruben A. – Páginas (III)



Etiquetas:

segunda-feira, março 17, 2008

Alicerçando Poesia # 294- Mario de Sá Carneiro

Caranguejola

Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!

Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.

Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
P'ra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com estes enleios e medos?
Não fui feito p'ra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...

Noite sempre p'lo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho - que amor!...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor -
P'lo menos era o sossego completo... História! Era a melhor
[das vidas

Se me doem os pés e não sei andar direito,
P'ra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde.
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...

De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo -
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...

Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará
P'ra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. C'o a breca! levem-me p'rá enfermaria -
Isto é: p'ra um quarto particular que o meu pai pagará.

Justo. Um quarto de hospital - higiénico, todo branco, moderno
[e tranquilo;
Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda;
E depois estar maluquinho em Paris, fica bem, tem certo estilo...

Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores
[maneiras.
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.


Mário de Sá Carneiro

Etiquetas:

quinta-feira, março 13, 2008

Alicerçando Palavras # 148 - Arturo Pérez-Reverte


Faulques não respondeu. Recordava agora, um pouco desconcertado, o que o seu amigo cientista tinha acrescentado quando conversavam sobre o caos e as suas regras: que um elemento básico da mecânica quântica era que o homem criava a realidade ao observá-la. Antes dessa observação, o que verdadeiramente existia eram todas as situações possíveis. Só ao olhar a natureza se concretizava, tomando partido. Havia, portanto, uma indeterminação intrínseca da qual o homem era mais testemunha que protagonista. Ou, clarificando o assunto, ambas as coisas em simultâneo: tão vítima como culpado.

Arturo Pérez-Reverte – O Pintor de Batalhas – Edições Asa – 2007 - p.96



Etiquetas:

segunda-feira, março 10, 2008

Alicerçando Imagens # 132 - Ilya Repin



Ilya Repin, estudante nihilista, 1883, óleo sobre tela, The Far East Fine Arts Museum, Khabarovsk, Russia


Etiquetas:

quarta-feira, março 05, 2008

Alicerçando Poesia # 293 - Ruy Belo


Os pássaros nascem na ponta das árvores

Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração


Etiquetas:

segunda-feira, março 03, 2008

Alicerçando Imagens # 134


Natay Altman, Portrait of Anna Akhmatova, 1915, oil on canvas, 123,5 x 103,2, The State Russian Museum, St. Petersburg


Etiquetas:

sábado, março 01, 2008

Alicerçando Poesia # 292 - Ana Marques Gastão


Vem de noite no sonho
sem pés
entre páginas...


Nota: Lembro-me de antes de ter ido para Londres o ter lido num blogue; infelizmente não tomei nota e peço desculpa por não citar onde o li, achei-o magnífico.

Etiquetas: