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quinta-feira, novembro 29, 2007

Alicerçando Palavras # 142 - Virginia Woolf


Sonho por vezes que, quando o dia do juízo chegar e os grandes conquistadores, advogados e estadistas vierem receber as suas recompensas – coroas, louros, nomes gravados indelevelmente em mármore imperecível, o Todo-Poderoso se voltará para S. Pedro e dirá, não sem uma certa inveja, quando nos vir chegar com os nossos livros debaixo dos braços:

— Olhai, estes não precisam de recompensa. Nada temos para lhes dar. Eles amaram a leitura.


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terça-feira, novembro 27, 2007

Alicerçando Poesia # 277 - Helder Moura Pereira


Por um rosto chego ao teu rosto

Por um rosto chego ao teu rosto,
noutro corpo sei o teu corpo.
Num autocarro, num café me pergunto
porque não falam o que vai
no seu silêncio aqueles cujo olhar
me fala da solidão.
Esqueço-me de mim. Tão quieto
pensando na sua pouca coragem, a minha
sempre adiada. Por um rosto
chegaria o teu rosto, mesmo de um convite
e desenha no ar o hábito
por que andou antes de saíres
do espaço à sua volta. Estás longe,
só assim podes pedir algumas horas
aos meus dias. Sem fixar a voz
a tua voz é uma corda, a minha
um fio a partir-se.


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domingo, novembro 25, 2007

Alicerçando Palavras # 141 - Almada Negreiros


NUMA LIVRARIA


Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler. E os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.
Deve haver certamente outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.
No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todas muito bem vestidas de quem precisa salvar-se.



Almada Negreiros



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sexta-feira, novembro 23, 2007

Alicerçando Imagens # 128 - Juan Gris



Homem no Café, 1912, óleo sobre tela, 128.2 x 88 cm; Philadelphia Museum of Art


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quarta-feira, novembro 21, 2007

Alicerçando Poesia # 276- Fiama Hasse Pais Brandão


Do Outono

Sem vento, a minha voz secou
aqui, neste parque de cedros quietos.

Tudo é como ontem era, mas a minha
voz, na minha face, calou-se,
porque só o vento me trazia a fala,
vinda de algures, com notícias de alguém,
indo para além, para outros ouvidos, num país.


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segunda-feira, novembro 19, 2007

Alicerçando Imagens # 127 - Antonio Saura


Foule, 1962, óleo sobre lienzo, 162 x 390 cm

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quinta-feira, novembro 15, 2007

Alicerçando Poesia # 275 - Fernando Pessoa


(14-6-1932)





Basta pensar em sentir
Para sentir em pensar.
Meu coração faz sorrir
Meu coração a chorar.
Depois de parar e andar,
Depois de ficar e ir,
Hei de ser quem vai chegar
Para ser quem quer partir.

Viver é não conseguir.


Fernando Pessoa, Inéditas



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terça-feira, novembro 13, 2007

Alicerçando Poesia # 274 - Sylvia Plath


Papoilas em Julho

Pequenas papoilas, pequenas chamas infernais,
sois inofensivas?
Estremeceis. Não posso tocar-vos.
Ponho as minhas mãos por entre as chamas. Mas nada queima.

E fico exausta quando vos vejo
estremecer assim, pregueadas e rubras como a pele da boca.

Uma boca há pouco ensanguentada.
Pequenas orlas de sangue!

Há nela um fumo que não consigo tocar.
Onde está o vosso ópio, as vossas cápsulas nauseabundas?

Se eu pudesse esvair-me em sangue ou dormir!...
Se a minha boca conseguisse desposar uma tal ferida!

Ou os vossos licores me penetrassem, nesta cápsula de vidro,
trazendo-me a acalmia e o silêncio.

Mas sem cor. Sem nenhuma cor.


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domingo, novembro 11, 2007

Alicerçando Imagens # 126 - Julio Romero Torres (1874/1930)




Esperando, óleo sobre tela - Pinacoteca de Monserrat, Espanha



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quinta-feira, novembro 08, 2007

Alicerçando Palavras # 140 - Antonin Artaud


Se se pudesse somente provar o seu nada, se se pudesse repousar no seu nada, e que esse nada não fosse uma certa forma de ser, mas também não fosse pura e simplesmente a morte.

É tão duro deixar de existir, deixar de estar dentro de alguma coisa. A verdadeira dor é sentir em si o seu pensamento a deslocar-se. Mas o pensamento como um ponto não é certamente um sofrimento.

Cheguei a um ponto em que não me agarro já à vida, mas levo comigo todos os apetites e a titilação insistente do ser. Já só tenho uma actividade, refazer-me.


Artaud, Antonin, O Pesa-Nervos, Hiena Editores



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terça-feira, novembro 06, 2007

Alicerçando Poesia # 273 - José Agostinho Baptista


O Verão

Estás no verão,
num fio de repousada água, nos espelhos perdidos sobre
a duna.
Estás em mim,
nas obscuras algas do meu nome e à beira do nome
pensas:
teria sido fogo, teria sido ouro e todavia é pó,
sepultada rosa do desejo, um homem entre as mágoas.
És o esplendor do dia,
os metais incandescentes de cada dia.
Deitas-te no azul onde te contemplo e deitada reconheces
o ardor das maçãs,
as claras noções do pecado.
Ouve a canção dos jovens amantes nas altas colinas dos
meus anos.
Quando me deixas, o sol encerra as suas pérolas, os
rituais que previ.
Uma colmeia explode no sonho, as palmeiras estão em
ti e inclinam-se.
Bebo, na clausura das tuas fontes, uma sede antiquíssima.
Doce e cruel é setembro.
Dolorosamente cego, fechado sobre a tua boca.


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domingo, novembro 04, 2007

Alicerçando Imagens # 125 - Dorothea Tanning 1910


Crepuscula glacialia, 1997, óleo sobre tela


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sexta-feira, novembro 02, 2007

Alicerçando Palavras # 139 - Gonçalo Cadilhe


Preciso de uma nova relação com o passar do tempo, mas também de um novo olhar sobre o espaço. Estamos habituados a observar de uma forma voraz e superficial. No máximo, perdemos cinco minutos debruçados no parapeito de um miradouro, menos tempo ainda na contemplação de um quadro, e apenas alguns segundos nas linhas de chuva que escorrem pelo vidro da janela numa tarde de Outono.

Aqui, o tempo que se dedica a olhar o espaço não serve para aprender, mas sim para alienar. É como fixar o movimento de um pêndulo até se deixar cair num estado de hipnose. Fixo o mar até alcançar um estado muito perto da anulação total da ansiedade. Estou baptizado.


Cadilhe, Gonçalo, Planisfério Pessoal, Oficina do Livro



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