O CAMINHANTE
Não me perguntes
O que é salvação
Ou onde a encontrar,
Não sou investigador, mas apenas poeta...
Vivo agarrado a esta terra.
Perante mim corre o rio da vida...
Levando na sua corrente
Luz e sombra, bem e mal,
Ganhos e perdas, lágrimas e risos,
Coisas que se entrelaçam
E se esquecem!
Sobre as suas águas
A manhã chega em profundos matizes,
O ocaso estende o seu véu carmesim,
E os raios lunares caem como o suave tacto de uma mãe.
Na noite escura
As estrelas elevam as suas orações;
Sobre as suas ondas
A madhuri oferece os seus dons,
E as aves soltam os seus cantos.
Quando ao ritmo das ondas
Silencioso dança o meu coração
Então nesse ritmo
Estão os meus limites e a minha liberdade.
Não desejo conservar nada
Nem apegar-me a nada.
Desatando os nós da união e da separação,
Quero flutuar com o Todo
Içando as minhas velas ao vento que paira.
Oh, grande Caminhante!
Para ti abrem-se os dez caminhos
Nos confins da terra,
E não tens templo, nem céu,
Nem limite final.
A cada passo tocas o chão sagrado.
Caminhando a teu lado, oh, Incansável!
Encontro a salvação
No tesouro do caminho.
Em luz e sombra,
Nas páginas sempre novas da criação,
Em cada novo instante de dissolução
Ouve-se o ritmo das tuas danças e canções.
(in Poesia, tradução de José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim, 2004 – documenta poetica)