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sexta-feira, março 31, 2006

Alicerçando Palavras # 105 - Julian Barnes


Porque nos faz a escrita perseguir o escritor?
Porque não o deixamos simplesmente em paz?


Julian Barnes, O Papagaio de Flaubert



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quinta-feira, março 30, 2006

Alicerçando Poesia # 182 - Kavafis


FUI

Não me manietei. Dei-me totalmente e fui.
Aos deleites, que metade reais,
metade volteantes dentro da minha cabeça estavam,
fui para dentro da noite iluminada.
E bebi dos vinhos fortes, tal
como bebem os denodados do prazer.


Poemas e Prosas, tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis



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terça-feira, março 28, 2006

Alicerçando Imagens # 97 - Giambattista Tiepolo 1696/1770



Homem de barbas com capa


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domingo, março 26, 2006

Alicerçando Palavras # 104 - Manuel Vázquez Montalbán


- Não é assim tão simples, sobrinho. Por que é que eu arrisquei toda a minha vida? Por aposta? Por graça? Há muitos códigos além do Penal, e num dado momento da tua vida fazes um código para ti, muito simples ou muito complicado, e viverás sempre em função desse código, respeitando-o ou toureando-o, mas o código está aí, como um fantasma, mas como um fantasma que existe, que está presente.

In, Galíndez, Editorial Caminho, 1990



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sexta-feira, março 24, 2006

Alicerçando Poesia # 181 - Else Lasker-Schüller


Reconciliação

Há-de uma grande estrela cair no meu colo...
A noite será de vigília,

E rezaremos em línguas
Entalhadas como harpas.

Será noite de reconciliação –
Há tanto Deus a derramar-se em nós.

Crianças são os nossos corações,
anseiam pela paz, doces-cansados.

E nossos lábios desejam beijar-se –
Por que hesitais?

Não faz meu coração fronteira com o teu?
O teu sangue não pára de dar cor às minhas faces.

Será noite de reconciliação,
Se nos dermos, a morte não virá.

Há-de uma grande estrela cair no meu colo.



(tradução João Barrento)



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quinta-feira, março 23, 2006

Alicerçando Palavras e Imagens # 8 - Keith Haring 1958/1990


Para mim, não há diferença entre um desenho que faço no metro e uma peça que é vendida por milhares de dólares. Há diferenças óbvias no contexto e nos meios utilizados, mas a intenção permanece a mesma.




Haring desenhando no metro


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terça-feira, março 21, 2006

Alicerçando Poesia # 180 - Fernando Pessoa


(18-9-1933)





Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.


Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.


Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.


Cancioneiro



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domingo, março 19, 2006

Alicerçando Palavras # 103 - Fernando Pessoa


Carta requerendo o lugar de conservador-bibliotecário do Museu-Biblioteca Castro de Guimarães em Cascais



Exma. Comissão Administrativa do Museu-Biblioteca Conde de Castro Guimarães


Fernando Nogueira Pessoa, solteiro, maior, escritor, residente em Lisboa, na Rua Coelho da Rocha, número dezasseis, primeiro andar, e provisòriamente em Cascais, na Rua Oriental do Passeio, porta dois, vem concorrer perante V.Exa ao lugar de conservador do Museu-Biblioteca Conde de Castro Guimarães, com os fundamentos seguintes, expostos no termo do artigo 6º e seus §§, do Regulamento do Museu-Biblioteca, conforme estão transcritos no anúncio inserto em O Século, de Lisboa, do dia 1 do mês corrente.



O requerente tem 44 anos de idade, é natural de Lisboa, freguesia dos Mártires, e filho legítimo de Joaquim Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Nogueira Pessoa, ambos já falecidos. Não junta certidão de idade, nem, aliás, certidão de registo criminal, por o citado artigo 6º e seus §§ não exigirem, nem explicita nem implìcitamente, outros documentos que não sejam os rigorosamente precisos para apreciar a afirmação das habilitações neles indicadas, como motivos de preferência.



São as seguintes as habilitações do requerente, expostas nos termos do citado artigo e seus §§, pela ordem dos mesmos §§, e com o apoio documental que irá sendo indicado no decurso da presente exposição:



§ 1 - O requerente tem o Curso ou Exame Intermédio da Universidade (inglesa) do Cabo da Boa Esperança, como prova com a respectiva carta. À parte isto, foi concedido ao requerente, na mesma Universidade, o Prémio Rainha Vitória, de estilo inglês, como prova com a carta oficial assinada pelo secretário arquivista da Universidade, em que se comunica ao requerente a concessão do prémio. Juntam-se os 2 citados documentos. § 3 - O requerente tem uma já extensa colaboração dispersa por várias revistas portuguesas, de onde se lhe advém o ser hoje conhecido no País, sobretudo entre as novas gerações, a um ponto quase injustificável para quem se tem abstido de reunir em livros essa colaboração. Importa talvez citar as revistas em que essa colaboração foi ou mais assídua ou mais marcante. A Águia (nos anos 1912 a 1914), Orpheu, Centauro, Contemporânea, Presença, Athena e Descobrimento. Foi o requerente um dos directores do Orpheu, e dirigiu, conjuntamente com o pintor Ruy Vaz, a revista de arte Athena. - À abstenção do requerente de publicar livros fazem excepção os quatro folhetos em verso inglês que, destinados à Biblioteca do Museu- Biblioteca, acompanham o presente requerimento.



Quanto o serem ou não estes escritos "de reconhecido mérito", melhor o poderão V.Exas averiguar com perguntas casuais nos meios literários e artísticos portugueses do que o poderá demonstar, de modo realmente probante, qualquer documentação. O requerente chama, porém, a atenção de V.Exas para os dois estudos que lhe foram dedicados pelo jovem - e não fica mal dizer notável - crítico coimbrão João Gaspar Simões, a págs, 171 a 191 do livro Temas (Edições Presença, Coimbra, 1929) e a págs, 164 a 193 do livro O Mistério da Poesia (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1931), assim como para o que do requerente diz Pierre Hourcade no artigo Panorama du Modernisme Littéraire ao Portugal inserto no número de Janeiro-Maio (nº1.2) do Bulletin des Études Portugaises, publicados pela Imprensa da Universidade de Coimbra e pelo Institut Français au Portugal. Quanto a opiniões, presumivelmente autorizadas, sobre os versos ingleses do requerente juntam-se as críticas que aos dois primeiros folhetos (os dois segundos não foram enviados a jornais) foram feitas pelo Suplemento Literário do Times e pelo Glasgow Herald, apresentado assim, em certo modo, opiniões representativas da crítica inglesa e escocesa.



§ 4 - Os documentos citados em referência ao § 1 e a este juntos demonstram mais do que o necessário quanto ao conhecimento que o requerente tem da língua inglesa. Quanto ao seu conhecimento da língua francesa, crê o requerente que na ausência de prova documental realmente válida (como a que tem para o inglês), o melhor que pode fazer é juntar uma folha de impressão da Contemporânea, número 7, onde, a págs. 20 e 21, vêm três canções (Trois Chansons Mortes) que escreveu em francês. - No texto do artigo 6º pròpriamente dito, do Regulamento, diz-se que é necessário que o conservador-bibliotecário seja pessoa de "reconhecida competência e idoneidade". Salvo o que de competência e idoneidade está implícito nas habilitações indicadas como motivos de preferência nos §§ di artigo e portanto se prova documentalmente pelos documentos referentes às indicações de cada §, a competência e a idoneidade não são susceptíveis de prova documental. Incluem, até, elementos, como o aspecto físico e a educação, que são indocumentáveis por natureza.



Cascais, 16 de Setembro de 1932


Fernando Nogueira Pessoa



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sexta-feira, março 17, 2006

Alicerçando Palavras e Imagens # 7 - Anselm Kiefer



Margarethe, 1981, óleo e palha sobre tela, 280 x 380cm, Londres




Toda a pintura - mas também a literatura e tudo que com ela se relaciona - é apenas um processo de andar em volta de algo que se não pode exprimir, em volta de uma cratera ou de um buraco negro em cujo centro se não pode penetrar. E essas coisas que tomamos como tema mais não são do que seixos na base da cratera - assinalam um círculo que, asssim o esperamos, se aproxima cada vez mais do centro.

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quinta-feira, março 16, 2006

Aliçercando Poesia # 180 - William Butler Yeats


A Last Confession


What lively lad most pleasured me
Of all that with me lay?
I answer that I gave my soul
And loved in misery,
But had great pleasure with a lad
That I loved bodily.

Flinging from his arms I laughed
To think his passion such
He fancied that I gave a soul
Did but our bodies touch,
And laughed upon his breast to think
Beast gave beast as much.

I gave what other women gave
That stepped out of their clothes,
But when this soul, its body off,
Naked to naked goes,
He it has found shall find therein
What none other knows,

And give his own and take his own
And rule in his own right;
And though it loved in misery
Close and cling so tight,
There's not a bird of day that dare
Extinguish that delight.


THE WINDING STAIR AND OTHER POEMS



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quarta-feira, março 15, 2006

Alicerçando Poesia # 179


O Céu

Assoam-se-me à alma quem
como eu traz desfraldado o coração sabe o que querem
dizer estas palavras.
A pele serve de céu ao coração.


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terça-feira, março 14, 2006

Alicerçando Palavras # 102 - Konstandinos Kavafis


VESTES


Dentro de um caixote ou dentro de um móvel de ébano precioso vou pôr a guardar as vestes da minha vida.

As roupas azuis. E depois as vermelhas, as mais belas de todas. E a seguir as amarelas. E por fim de novo as azuis, mas muito mais desbotadas estas últimas do que as primeiras.

Vou guardá-las devotamente e com muita tristeza.

Quando vestir as roupas negras e quando morar dentro de uma casa negra, dentro de um quarto escuro, abrirei de vez em quando o móvel com alegria, com desejo e com desespero.

Verei as roupas e lembrar-me-ei da grande festa - que será nesse momento de todo finda.

De todo finda. Os móveis espalhados desordenadamente dentro das salas. Pratos e copos partidos no chão. Todas as velas gastas até ao fim. Todo o vinho bebido. Todos os convidados idos. Cansados alguns estarão completamente sozinhos, como eu, dentro de casas escuras - outros mais cansados terão ido dormir.



Poemas e Prosas, tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis



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domingo, março 12, 2006

Alicerçando Palavras e Imagens # 6 - Francis Bacon







No meu caso, toda a pintura é casual - e quanto mais envelheço, mais assim é. Antevejo-a na minha cabeça, antevejo-a e, no entanto, é raro sair do modo que a vi. É transformada pela pintura real. Uso pincéis muito grandes e, devido à maneira como trabalho, na realidade muitas vezes não sei o que a tinta vai fazer, e faz muitas coisas que são muito melhores do que as que eu conseguiria fazer. É um acaso? Talvez se possa dizer que não é um acaso, porque se torna um processo selectivo em que escolhemos preservar parte deste acidente. É claro que se tenta manter a vitalidade do acidente e preservar uma continuidade.


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sexta-feira, março 10, 2006

Alicerçando Palavras # 101 - Jon Fasman


Cada vez que olhava pela janela, pensava: “Isto é o mais longe que estive de casa”, e depois de ler e escrever um pouco, voltava a olhar e a pensar: “Não, agora é que é o mais longe que já estive de casa.” Cada vez que olhava para a paisagem, sentia uma ligeira pontada de saudades do Yuri de há quarenta minutos, que não tinha visto tudo o que aquele Yuri vira. Ia-se descartando das várias personalidades a intervalos irregulares e, quando mudou de comboio quatro dias depois em Novossibirsk, imaginou-se a si próprio um homem muito mais cosmopolita do que o rapaz urbano de Yamoskvareche que saíra de casa quase uma centena de horas antes.

Jon Fasman, A Biblioteca do Geógrafo



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quarta-feira, março 08, 2006

Alicerçando Poesia # 178 - Affonso Romano de S'Antanna


Poemas para a Amiga

"O amor com seus contrários se acrescenta"
Camões



Fragmento 1

Tu sempre foste una
e sempre foste minha,
ainda quando a cor e a forma tua se fundiam
com outra forma e cor que tu não tinhas.

Por isto é que te falo de umas coisas
que não lembras
nem nunca lembrarias
de tais coisas entre mim e ti
ainda quando tu não me sabias
e dividida em outras te mostravas
e assim dispersa me ouvias.

Tu sempre foste uma
ainda quando o corpo teu
com outro corpo a sós se punha,
pois o que me tinhas a dar
a outro nunca o deste
e nunca o doarias.

Por isto é que te sinto
com tanta intimidade
e te possuo com tanta singeleza
desde quando recém vinda
ostentavas nos teus olhos grande espanto
de quem não compreendia
a antiguidade desse amor que em mim fluía.


Fragmento 2

Eu sei quando te amo:
é quando com teu corpo eu me confundo,
não apenas nesta mistura de massa e forma,
mas quando na tua alma eu me introduzo
e sinto que meu sangue corre em ti,
e tudo que é teu corpo
não é que um corpo meu
que se alongou de mim.

Eu sei quando te amo:
é quando eu te apalpo e não te sinto,
e sinto que a mim mesmo então me abraço,
a mim
que amo e sou um duplo,
eu mesmo
e o corpo teu pulsando em mim.


Fragmento 3

É tão natural
que eu te possua
é tão natural que tu me tenhas,
que eu não me compreendo
um tempo houvesse
em que eu não te possuísse
ou possa haver um outro
em que eu não te tomaria.

Venhas como venhas,
é tão natural que a vida
em nossos corpos se conflua,
que eu já não me consinto
que de mim tu te abstenhas
ou que meu corpo te recuse
venhas quando venhas.

E de ser tão natural
que eu me extasie
ao contemplar-te,
e de ser tão natural
que eu te possua,
em mim já não há como extasiar-me
tanto a minha forma
se integrou na forma tua.


Fragmento 4

As vezes em que eu mais te amei
tu o não soubeste
e nunca o saberias.


Sozinho a sós contigo
em mim mesmo eu te criava,
em mim te possuía

De onde vinhas nessas horas
em que inteira eu te envolvia,
nem eu mesmo o sei
e nunca o saberias

Contudo, em paz
eu recebia o carinho,
compungindo o recebia,
tranqüilo em meu silêncio
e tão tranqüilo e tão sozinho
que calmamente eu consentia:
- que ainda que muito me tardasse
mais ainda, um outro tanto, eu sempre esperaria.


Fragmento 5

Tanto mais eu te comtemplo
tanto mais eu me absorvo
e me extasio

Como te explicar
o que em teu corpo eu sinto,
o que em teus olhos vejo,
quando nua nos meus braços
no meus olhos nua,
de novo eu te procuro
e no teu corpo vou-me achar?

Como te explicar
se em teu corpo eu me eternizo
e de onde e como
sendo eu pequeno e frágil
pelo amor me dualizo?

Tanto mais eu te possuo
tanto mais te tornas bela,
tanto mais me torno eu puro.

E à força de tanto contemplar-te
e de querer-te tanto,
já pressinto que em mim mesmo
eu não me tenho,
mas de meu ser, ora vazio,
pouco a pouco fui mudando
para o teu ser de graça cheio.


Fragmento 6

Estás partindo de mim
e eu pressinto que me partes,
e partindo, em ti me vai levando,
como eu que fico
e em mim vou te criando.

Tanto mais tu me despedes
e te alongas,
tanto mais em mim vou te buscando
e me alongando,
tanto mais em mim vou te compondo
e com a lembrança de teu ser
me conformando.

Estás partindo de mim
e eu pressinto
na verdade, há muito que partias,
há muito que eu consinto
que tu partas como um mito..

Mas não és a única que partes
nem eu o único que fico:
sei que juntos e contrários
nos partimos:
-pois tanto mais nos desencontros nos revemos,
tanto mais nas despedidas consentimos.


Fragmento 7

Estranho e duro amor
é o nosso amor, amante-amiga,
que não se farta de partir-se
e não se cansa de querer-se.
Amor
todo feito de distâncias necessárias
que te trazem
e de partidas sucessivas
que me levam.
Que espécie de amor
é esse amor que nos doamos
sem pensar e sem querer com tanto amor
e tão profundo magoar?

Estranho e duro amor
que não se basta
e de outros amores se socorre
e se compensa
e neste alheio compensar-se
nunca se alimenta,
mas se avilta e se desgasta.

Estranho amor,
ferino amor,
instável amor

feito sem muita paz,
com certo desengano
e um desconsolo prolongado.

Feito de promessas sem futuro
e de um presente de saudades.
Chorar tão dúbio amor
quem há-de?

Estranho amor
e duro amor
incerto amor,

que não te deu o instante que esperavas
e a mim me sobejou do que faltava.


Fragmento 8

Contemplo agora
o leito que vazio
se contempla.
Contemplo agora
o leito que vazio
em mim se estende
e se me aproximo
existe qualquer coisa
trescalando aroma em mim.

Onde o teu corpo, amante-amiga,
onde o carinho
que compungido em recebia
e aquela forma que tranquila
ainda ontem descobrias?

Agora eu te diria
o quanto te agradeço o corpo teu
se o me dás ou se o me tomas,
e o recolhendo em mim,
em mim me vais colhendo,
como eu que tomo em ti
o que de ti me vais doando.

Eu muito te agradeço este teu corpo
quando nos leitos o estendias e o me davas,
às vezes, temerosa,
e, ofegante, às vezes,
e te agradeço ainda aquele instante (o percebeste)
em que extasiado ao contemplá-lo
em mim me conturbei
- (o percebeste) me aguardaste
e nos olhos te guardei.

Eu muito te agradeço, amante-amiga,
este teu corpo que com fúria eu possuía,
corpo que eu mais amava
quanto mais o via,
pequeno e manso enigma
que eu decifrei como podia.

Agora eu te diria
o que não soubeste
e nunca o saberias:
o que naquele instante eu te ofertava
nunca a mim eu já doara
e nunca o doaria.

Nele eu fui pousar
quando cansado e dúbio,
dele eu fui tomar
quando ofegante e rubro,
dele e nele eu revivia
e foi por ele que eu senti
a solidão, e o amor
que em mim havia.

Teu corpo quando amava
me excedia,
e me excedendo
com o amor foi me envolvendo,
e nesse amor absorvente
de tal forma absorvendo,
que agora que o não tenho
não sei como permaneço nesta ausência
em que tuas formas se envolveram,
tanto o amor
e a forma do teu corpo
no meu corpo se inscreveram.


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terça-feira, março 07, 2006

Alicerçando Palavras e Imagens # 5 - James Rosenquist



Hey! Let's go for a ride, 1961, óleo sobre tela, 86.7 x 91.1 cm



Penso que temos uma sociedade livre e a acção que se desenrola nesta sociedade livre permite invasões, como numa sociedade comercial. Por isso ajusto o meu trabalho, como um publicitário ou uma grande companhia, a esta inflação visual... na publicidade comercial, que é um dos alicerces da nossa sociedade.

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domingo, março 05, 2006

Alicerçando Poesia # 177 - Ana Akhmátova - Rússia - 1889/1966


Como Pedra Branca


Como pedra branca no fundo do poço
dentro de mim está uma memória.
Nem quero afastá-la, nem posso:
é sofrimento e é prazer e glória.


Julgo que quem olhar-me bem de perto
dentro em meus olhos logo pode vê-la.
E ficará mais triste e pensativo
que alguém que escute uma anedota obscena.


Eu sei que os deuses metamorfoseavam
os homens em coisas sem tirar-lhes alma.
Para que o espante da tristeza dure sempre,
em coisa da memória te mudei.


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sexta-feira, março 03, 2006

Alicerçando Palavras # 100 - Eclisiastes


Seja o que for que a tua mão entenda fazer, fá-lo com a tua força; pois para onde quer que vás não existe trabalho, nem divisa, nem conhecimento, nem sabedoria no túmulo.

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quinta-feira, março 02, 2006

Alicerçando Palavras e Imagens # 4 - Francesco Clemente



Inside-Outside



Como tudo na natureza, a cultura baseia-se na diversidade. Sou partidário da diversidade.

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