Alicerçando Poesia # 20 - Rodolfo Alonso - Argentina
(DES) DIZER
1
pátria alucinada
esguelhada
enlameada
pátria esfarrapada
pátria? Segada
desgastada
in extremis
à borda
(a bordo)
da asfixia
oprimida
por céus
enormes
grandes mares
megapolis
distâncias e trigais
esmagada
por tanta
riqueza
abandonada.
2
ciano de cianose
espera
óxido de oxigénio
espera
terror a todo o terreno
tendal dos estendidos
espera
salve-se quem se salva
espera?
fedor dos falidos
espera
náufragos da náusea
espera
espera a tua esperança
(des)
perita em esperança
(des) es
exprime a tua esperança
(des) espera
des dor aos teus
(des) esperança.
3
pode algo
a metáfora?
se não posso poder
se poder não se pode
que possam as palavras
que as palavras apodreçam
que percam as palavras
pátria mátria filhanossa
que não estás nos reinos
venha a nós o teu céu
vinga-nos a tua vingança
vinga-te de verdugos
vinga-te de inocentes
ingénuos em espadas
assustados messiânicos
messias do medíocre
não te perdoam dívidas
não perdoam teus deveres
fazem sua vontade
sua santíssima gana
vomitam-nos por tíbios
eu não sou o caminho
que não venham a mim
não deixem as crianças
assim na terra
nunca haverá mais céus?
o pão nosso?
de cada dia?
dai-no-lo dai-no-lo dai-no-lo
com o suor
da nossa dívida
hoje? hoje? agora?
assim como nós não perdoamos
nem perdoaremos
com o gelado suor
da agonia
procura despertar
tantos lázaros
felizes na miséria
ébrios de boa morte
ausentes de viver
sem cor nem calor
pátria mátria filhanossa
não há génio no engenho
não há voo na paródia
não há decadência útil
não há finais dourados
que conduzam ao céu
os pobres de espírito.
Tradução de José Augusto Seabra
In, JL, 06-02-2002